quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Brasil Acima de Tudo é Alemanha Acima de Tudo?

por José Roitberg´

A música "Gott erhalte Franz den Kaiser" (Deus Preserve (Salve) Franz, o Imperador), que se tornou o hino da Alemanha em 1922, foi composta por Joseph Haydn em 1797 para o aniversário de Francis II (1768-1835), imperador do Sacro Império Romano e Áustria. A letra surgiu apenas em 1841, pelas mãos do poeta Hoffmann von Fallersleben tornando a música velha de 44 anos antes, em "Das Lied der Deutschen" (A Canção dos Alemães).

Naquele momento histórico não existia a Alemanha como país. O nome correto era Confederação Germânica (Deutscher Bund 1815–1866), um agrupamento político de 35 estados monárquicos e quatro cidades republicanas livres. Foi a Revolução Industrial que acabou obrigando, economicamente, a remoção de barreiras comerciais entre estas 39 'nacionalidades' alemãs, através da criação da União Alfandegária Germânica (Zollverein), com a participação da maioria dos estados em 1834.

E foi sobre a Zollverein que von Fallersleben escreveu na canção. A letra elogiava o livre comércio de bens germânicos entre os estados e isso iria aproximar os alemães para a formação de um povo único, acreditava ele.

A primeira linha de "Das Lied der Deutschen" é: "Deutschland, Deutschland über alles, über alles in der Welt" cuja tradução aceita é 'Alemanha, Alemanha acima de tudo, acima de tudo no mundo'. O que von Fallersleben pretendia em 1840 é que o país, Alemanha, o conceito de uma nação que ainda não existia, estivesse acima dos problemas pessoais e individuais do povo alemão fragmentado em 39 pequenos estados. O “todos” para ele, não eram todas as outras nações do mundo, mas os povos germânicos.

Mas, sempre tem um mas: a palavra alemã "alles" é utilizada para dois significados: todos e tudo, que são diferentes nas línguas latinas, mas não em alemão. Aí, a tradução que ficou para o Hino da Alemanha (que não é o hino nazista) durante o período nazista hitleriano foi o brado simples "Alemanha acima de tudo", criado nove décadas antes, já com outro sentido, com o desejo da Alemanha de realmente dominar o mundo e se sobrepor a todas as nações.

Na gramática alemã o termo "über allen" significa "acima de todas as outras pessoas", e foi a escolha dos Aliados para finalidade de propaganda de guerra do durante a Segunda Guerra Mundial. Naquele momento, com o genocídio de judeus, ciganos, deficientes físicos e mentais, e prisioneiros civis e militares, além da escravização dos povos conquistados, fazia sentido.

Este problema gramatical do termo "alles" é semelhante ao "you" em inglês, podendo significar "você" ou "vocês". A aí, o tradutor pode quebrar a cara.

Quem tornou a canção o hino da Alemanha, foi o presidente Social Democrata, Friedrich Ebert, em 1922 e não, Adolf Hitler em 1933. Hitler manteve a primeira estrofe, removeu as outras, trocando-a por uma canção nazista, criando um novo hino baseado no velho.

No caso brasileiro, o lema "Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos", o slogan da campanha de Jair Bolsonaro agora em 2018, é citado, obviamente, como um discurso nazista. Mas também não é.

"Brasil acima de tudo" era o grito de guerra da Brigada Paraquedista do Exército Brasileiro e hoje, é uma saudação comum entre os militares, frequentemente dita, também como 'ponto' final ao se cantar a Canção do Exército.

O Coronel Cláudio Tavares Casali (Pqdt 46.363-88/1) escreveu um artigo completo sobre a origem do lema e é algo surpreendente.

Em 1968, o país vivia a turbulência das ações armadas terroristas contra o Estado e o povo brasileiro. No início de 1969 um grupo de oficiais paraquedistas "criou um grupo nacionalista e não xenófobo chamado Centelha Nativista". No Rio de Janeiro estavam os capitães Francimá de Luna Máximo (Pqdt 8.201-61/9) e José Aurélio Valporto de Sá (Pqdt 8.259-61/11).

O entendimento do grupo era muito similar ao de von Fallersleben em 1840: "... teriam que ressuscitar os valores que existiram em Guararapes de nacionalismo não xenófobo, de amor ao Brasil e de criar meios que reforçassem a identidade nacional e evitassem a fragmentação do povo pela ideologia e exploração de dissenso da sociedade dividindo o povo nos termos da velha luta de classes do marxismo."
Sempre lembrando que o marxismo levou ao Internacional Socialismo, onde o Império Soviético tinha a petulância de alegar que ocupar militarmente outros países como Ucrânia, Bielorrússia, Uzbequistão, Cazaquistão, Geórgia, Azerbaijão, Lituânia, Moldávia, Letônia, Quirguistão, Tajiquistão, Armênia, Turcomenistão, Estônia, Polônia e Hungria, era algo “democrático”.

A Centelha Nativista era um movimento de concepção cristã, e possuía uma oração a ser proferida em suas solenidades. Dos sete pedidos a Deus, escritos em 1969, dois se destacam em 2018 e com certeza não foram atendidos.

"Livrai-nos da traição, da indiferença, da omissão, da covardia dos vendilhões da Pátria, e dos que solapam os valores permanentes da nacionalidade.

Livrai-nos dos que, pela comunicação social ou pelos livros, se empenham em poluir a vocação cívica e patriótica de nosso povo,"

Parece bem atual 50 anos depois, né?

A data da Batalha de Guararapes foi instituída como “Dia do Exército Brasileiro” pelo Decreto sem Nr, de 24 de março de 1994

O capitão Valporto criou o lema "Brasil acima de tudo". Foi questionado, já na época, devido ao brado alemão “Deutschland über alles”, cuja origem já detalhamos acima.

Em 1975, o Coronel Acrísio Figueira (Pqdt 800–52/4), então Comandante do 26° Batalhão de Infantaria Paraquedista estava em visita oficial ao Fort Bragg, nos EUA, sede dos paraquedistas norte-americanos. Lá ele viu que os militares da guarnição se cumprimentavam com "Air Born" e respondiam "All the Way". Em tadução livre "Paraquedista", "Até o Fim". Voltando ao Brasil "o Coronel Acrísio, visando a aumentar os laços de camaradagem e espírito de corpo de sua unidade militar, encampou a antiga ideia de seu subcomandante, Tenente-Coronel Valporto, um dos fundadores da Centelha, e introduz a saudação “Brasil” – “Acima de tudo”.

Em 15 de Janeiro de 1985, o General Acrísio Figueira assume o Comando da Brigada de Infantaria Paraquedista e passa a adotar, em definitivo, o lema e o brado “BRASIL, ACIMA DE TUDO”.

Pessoalmente eu acredito que tal e qual outras palavras, designações e lemas, que hoje fogem ao seu domínio original, fogem ao seu significado original, como "gay" (alegre), "fascista" (regime político adotado na Itália, Hungria, Portugal e Espanha), a própria suástica indiana, símbolo do deus Ganisha para boas jornadas físicas e espirituais (e por isto roubada pelos nazistas para a bandeira deles), "bundão" (que deveria ser apenas um traseiro grande) e tantas outras, o lema "Brasil Acima de Tudo", criado em contexto totalmente diferente do "Alemanha Acima de Tudo", mas também com a intenção de unir povo de forma patriota e evidentemente não nazista, vai ter um significado pejorativo para aqueles que o quiserem atribuir.

Outro exemplo desta vinculação de símbolos nazistas com o que não é nazista está no fato do juramento à bandeira no Brasil e na maioria dos países ser feito com o braço direito esticado e ligeiramente inclinado para cima. Temos fotos disto no Brasil desde o século 19, desde antes de Hitler nascer. Vemos isto nos juramentos do Hezbollah e de outros países árabes. Não importa aos que usam estas imagens e argumentos fajutos e falsos (fake), que a saudação nazista fosse uma modificação deste movimento, também antes utilizado pelos soldados alemães com o braço, além de esticado e ligeiramente levantado, ter uma rotação para a direita e não estar perpendicular ao corpo. Mas quem sabe isso? Agora você sabe.

É meu dever, como jornalista e pesquisador, dar a quem quiser, a informação histórica correta.

Alguns dos acontecimentos terroristas de 1968

Segundo BRILHANTE USTRA (p. 161) outros fatos marcantes no ano de 1968: - intensificação do movimento estudantil levando à morte, [...] o estudante Edson Luis; - “Jornadas de Junho”, com passeatas, depredações, queima de veículo; - explosão de bombas, saques e viaturas incendiadas de norte a sul do país; - assalto ao Hospital Militar do Cambuci para roubo de armas; - atentado a bomba no Consulado Americano em São Paulo; - atentado a bomba no QG do II Exército, com a morte do soldado Mário Kozel Filho; - “justiçamento” do Capitão do exército dos EUA Charles Chandler; - “justiçamento” do Major do exército alemão Edward Ernest Tito Otto; - atos de sabotagem em trens e fábrica de armas; e assalto ao trem pagador na ferrovia Santos/Jundiaí.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Coca-Cola Café Espresso com 40% a mais de cafeína? Será que é muito?

por José Roitberg

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Encontrei em SP, dias atrás esta nova Coca-Cola e experimentei, é claro. Antes de tomar, contei para algumas pessoas e uma retrucou: ah... é aquela que sua sobrinha tomou semana passada aqui em Sampa e disse que ficou doidona e nem conseguiu dormir! Vai tomar mesmo?

Eta efeito placebo!!! Ponto para o marketing da Coca-Cola. Na lata, em destaque na frente temos "mais cafeína". Quase invisível do lado, na área marrom, uma marca definindo 40% a mais de cafeína. Mas quanta cafeína é isto? É prejudicial?

Como na versão japonesa, a bebida não tem cheiro de café, mas tem sabor de café.

Se fosse o Daniel Azulay ele iria desenhar a resposta e nós iríamos adorar. Eu vou pelos documentos e matemática.

As leis brasileiras sobre alimentos NÃO OBRIGAM a indicação da quantidade de cafeína que em refrigerantes, energéticos e outros. Mas cafeína é uma droga e não um alimento. Bastava um deputado criar a lei e todos nós saberíamos o que ingerimos desta droga de ação quase imediata, de perda de ação em poucas dezenas de minutos e não viciante.

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O site da Coca-Cola se antecipou à lei, há muitos meses atrás e nos diz quanta cafeína há numa lata de 350 ml de Coca-Cola normal no Brasil: são apenas 35 mg. E isso é muito ou pouco? Equivale a um cafezinho?

É pouco. Não equivale a um cafezinho. Segundo a Coca-Cola, uma xícara de café expresso de 60 ml contém 72 mg de cafeína, ou seja mais do que 700 ml do refrigerante, enquanto uma xícara de 60 ml de café coado contém apenas 60 mg de cafeína. Isso é a xicrinha. A xícara grande, a de 240 ml de café coado, pode variar de 95 mg a 200 mg de cafeína, dependendo de como for preparada. Já o café solúvel em geral tem apenas 23% da cafeína em relação ao mesmo volume de café coado.

Portanto, mesmo se a envazagem do novo produto fosse de 350 ml, com 40% a mais de cafeína, uma lata de refrigerante chegaria a 49 mg de cafeína, continuando com menos do que uma xícara pequena de café coado.

Mas a nova lata é a de 220 ml. Assim sendo, teria 22 mg de cafeína, mais os tais 40%, chegando a apenas 30,8 mg de cafeína, obviamente MENOS CAFEÍNA que uma lata de 350 ml.

Desta forma, alguém ficar doidão com uma latinha de 220 ml de Coca-Cola Café Expresso só pode ser resultado de efito placebo.

Obviamente precisamos comparar com o Red Bull atual, pois é uma curiosidade geral já que tocamos na cafeína. Oficialmente, segundo a marca, a lata de 100 ml leva apenas 30 mg de cafeína, portanto praticamente o mesmo desta nova lata de 220 ml da Coca-Cola.

Já as latas maiores são mais perigosas. A de 250 ml, possui 77,4 mg de cafeína, 10% a mais que uma xícara de café expresso.

A lata de 355 ml chega as 110,7 mg de cafeína enquanto a lata maior e muito consumida, a de 473 ml vem carregada com 147,6 mg de cafeína. Mesmo assim, equivale a somente duas xicrinhas de café expresso. O efeito placebo dos energéticos também é considerável.

Segundo a revista SuperInteressante, há mais umas curiosidades. Os refrigerantes de laranja, limão e uva, não contém cafeína. Os de guaraná, levam epenas 2 mg por lata de 350 ml. Então use estes a noite no jantar.

O chá forte inglês tem 40 mg por xícar enquanto uma cuia de chimarrão contém apenas a metade, 20 mg.

Os remédios analgésicos com cafeína possuem 50 a 65 mg por comprimido.

O limite de consumo humano aceito, mas não regulamentado, é de 250 mg de cafeína por dia.

350 ml de mate possui 39 mg de cafeína, portanto pouco mais que a Coca-Cola. Então se você é daqueles que toma 1,5 litros de mate por dia, você está ingerindo umas 167 mg de cafeína.

blakA Coca-Cola com sabor de café, denominada Coca-Cola BlāK (com este traço no A mesmo) foi criada na França em 2006, introduzida nos EUA, Canadá, República Checa, Eslováquia, Lituânia e Eslovênia. Foi descontinuada em 2008.

A atual Coca-Cola Coffee, anunciada com 50% a mais de cafeína como marketing, foi lançada em setembro de 2017 no Japão. A brasileira, lançada agora em agosto de 2018 é anunciada com 40% a mais de cafeína.

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