segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Apocalipse 28-12, 2009 Revelação do Dia

Faz uns 10 anos que estava para ler O ANTICRISTO de Nietzsche. o livro onde ele se coloca de forma violentíssima contra os cristãos, favorável ao budismo e mostra um antissemitismo profundo, mas não se considera antissemita e ainda os critica. Vale a pena ler, é curto. Temos na lista todas as vertentes de religiosidade individual, menos Hareidim e mesmo de forma dolorosa o texto deve ser lido por qualquer um que pretenda entender a influência do pensamento de Nietzsche (escrito em 1888) sobre o ideário nazista de 40 anos depois. Você vai encontrar no texto várias fontes originais de pensamento que de certa forma explicam como se passa do convívio e vontade de exclusão dos judeus para o extermínio.

Não estou dizendo que o nazismo é baseado em Nietzsche, logo vindo aquele lugar comum do "Super Homem Nietzschiano" - isso é outro livro e fundamenta outras coisas. O ANTICRISTO (ele mesmo, o autor) julga de forma incisiva, contundente e até mesmo vergonhosa toda a vertente judaico-cristã-muçulmana, do ponto de vista de alguém que não acredita no Deus único. Deve ser lido. Para te uma ideia do caminho que o autor percorre, os cristãos são chamados de "super-judeus" herdando e aprimorando todas as "características nefastas dos judeus". Seus padres levam ao extremo as mesmas características dos rabinos. É um texto interessante e pouco discutido.

Nietzsche pinça citações dos Evangelhos para mostrar que não há nada menos "cristão" e que foge às palavras de Jesus do que os apóstolos e sucessores escreveram. Ao olhar para as definições do autor de como a religião e seu sistema clerical e de poder foram criadas e mantidas é muito simples olhar para fora e compreender melhor o que é uma teocracia islâmica atual, coisa que o alemão nunca viu.

O interesse ainda precisa ser maior entre nós, pois o autor está entre os texto banidos do ensino judaico com a pretensão de que judeus não tem que ler o Mein Kampf, não precisam conhecer o pensamento antissemita, não precisam conhecer os primeiros 400 ou 500 anos do cristianismo quando se deu a verdadeira primeira cisão monoteísta e muito menos devem ler evangelhos e o Corão. Imagine se algum judeu ler e estudar isso e resolver se converter? Que horror! Bah....

Mas hoje temos dois Apocalipses. O primeiro está dentro do meu conceito de traduções intencionalmente alienadoras e modificadoras. Para quem sabe hebraico pode até parecer bobagem, mas a maioria não sabe.

Torah.. O que significa a palavra? É a Bíblia (do latim que significa apenas "livro")? É "Velho Testamento"? Não, em hebraico significa "Lei". Portanto temos algumas traduções, as que as pessoas julgam estar erradas e vem como "Lei de Moisés". Na verdade é a Lei para nós, para os judeus. É mais ou menos como "O Apocalipse de João," incompreensível se não se souber que é apenas "A Revelação de João." Inclusive em um monte de bíblias católicas (quando não está excluído) e evangélicas, temos só "Apocalipse" como o último título, tirando João do contexto.

No latim antigo, antes da idade média os cristão a chamavam de Biblia Sacra, meramente Livro Sagrado. Muito depois com as traduções para as línguas anglo-saxônicas a coisa foi deturpada para Old e New Testemony, que literalmente é Velho e Novo TESTEMUNHO. Ora testemunho implica em que alguém viu e contou (o que não aconteceu). Mas na deturpação eclesiástica para português recebemos por aqui o Velho e o Novo TESTAMENTOS. Um testamento é algo deixado antes por alguém para que seus sucessores o recebam e o cumpram. O seja, de LEI para TESTAMENTO já há uma violação total da intenção original do texto.

A segunda revelação de hoje é mais curiosa. Galileu Galillei... Quem foi? Vc deve saber e não vou explicar. A Igreja sempre foi e é contra o conhecimento, até porque define que o conhecimento é o pecado original de Eva e Adão. Com o conhecimento não há salvação ou Paraíso. Perseguido por ser um homem de ciência numa era de trevas e logo ele dizendo que o Sol não era o centro do universo. Foi condenado a fogueira e depois perdoado.

Entendeu? É tão fácil jogar conceitos errados e as pessoas aceitarem... Galileu não viveu na Era das Trevas na Europa. Quando ele nasceu, a exploração do Brasil já tinha 56 anos... Seu grande livro foi escrito em 1632, quando foi preso pela Inquisição, julgado e condenado à prisão perpétua domiciliar, morrendo 10 anos depois. Na verdade criou telescópios melhores e sua grande heresia estava errada. Enquanto para Copérnico e a Igreja a Terra era o centro do universo, para Galileu, o Sol era centro do universo...

Um herói da humanidade. O pai da física moderna e da astronomia. Um nome a ser lembrado. Mas um nome que não pode ser dado. Sabe quantos "galileus" há na lista telefônica do RJ? Apenas 12. Vc já ouviu algum judeu chamado de Galileu? Se é personagem tão importante para a humanidade, porque seu nome praticamente se perdeu? É porque havia muito mais que ciência versus igreja, razão versus fé no caso de Galileu Galillei. Simplesmente porque Galileu, na Europa, durante uns 1.200 anos era uma designação também para Jesus... Jesus que veio da Galiléia, Jesus o Galileu. Mas isso não foi criado pela Igreja, foi criado pelos helenistas (gregos) em suas guerras dos século 4 contra Bizâncio, o berço dos primeiros 300 anos de cristianismo. Os helenistas chamavam os cristãos pejorativamente de galileus, mesmo que fossem todos nascidos há dezenas de gerações onde hoje é a Turquia, Líbano e partes da Síria e Irã. Quem era de lá, efetivamente nada tinha a ver com alguém que nasceu na Galiléia, mas cristãos eram galileus.

Acontece aí o mesmo que ocorre ao longo da história com todas as marcas de vergonha, como nossas estrelas amarelas (apenas a última delas) que há 65 anos éramos obrigados a usar para nos "marcarmos" judeus e depois de 1948 penduramos no pescoço para nos "afirmarmos" judeus. O "cristão galileu" venceu o helenismo e o pejorativo passou a ser marca de orgulho e ao longo de 1.200 anos muita gente mesmo recebeu o nome de Galileu já que não podia se dar o nome de Jesus, como no século 20 se tornou tão comum.

José Roitberg - jornalista

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