domingo, 19 de julho de 2015

História do Cemitério Israelita do Caju

O Rio Judeu Que o Povo Esqueceu

por José Roitberg - jornalista, pesquisador e Membro da ABEC

A Comunal Israelita é a instituição beneficente que gerencia três dos cemitérios israelitas no Rio de Janeiro. É encarregada do Cemitério Israelita de Inhaúma (Polacas) a partir de alguns anos após o falecimento da última membro da ABFRI - Associação Beneficente Israelita do Rio de Janeiro. Apesar de arcar com os custos da limpeza, conservação, reforma dos túmulos, recolocação de nomes que haviam desaparecido ao longo do tempo e da manutenção atual, a Comunal está impedida na justiça de realizar novos sepultamentos em Inhaúma devido a uma ação impetrada por uma parte. Em Inhaúma há 770 túmulos e local para outros 700, no mínimo. É um cemitério de muito fácil acesso atualmente.

caju
imagem Google Street View

O Cemitério Comunal Israelita foi inaugurado em 1955, praticamente no centro do Rio de Janeiro, como uma alternativa à longa jornada de trem necessária para se chegar á Vila Rosali. As ruas de acesso à Vila Rosali somente foram asfaltadas em 1963. A prefeitura dos anos 1960 foi sensível à demanda por um segundo cemitério israelita no município, entendendo que o da ABFRI não era considerado um cemitério adequado pela maior parte da comunidade judaica, devido ao sepultamento de prostitutas e cafetões. O primeiro pleito por um segundo cemitério no município foi feito em 1918. A área dos cemitérios do Caju já se encontrava urbanizada antes de 1850, com fácil acesso, inclusive bonde na porta.

CAJUO-AEREA

O terreno cedido fazia parte da área de indigentes do São Francisco Xavier que foi limpa e teve seu nível de terra rebaixado em vários metros. Atualmente a área de indigentes começa logo após o muro de trás do cemitério israelita que também é utilizado para gavetas do Caju. No início de 2015, foi realizado um contrato com a Santa Casa, para a expansão do Cemitério Israelita, novamente sobre a área de indigentes, mas com a posse da área sendo agora da empresa privada PAX, o acordo ainda não foi implementado.

vista do caju por trás
Cemitério Comunal Israelita do Caju, vista por trás a partir da quadra de indigentes do cemitério São Francisco Xavier, foto do autor

Inaugurado em 1955, o Cemitério Israelita do Caju possui mais de 6.500 sepulturas, inclusive vários mausoléus familiares ao longo de seu muro do lado direito. É um campo já quase totalmente ocupado, onde várias sepulturas são utilizadas em camadas para familiares, algo permitido no judaísmo. Recentemente até mesmo o andar térreo do prédio da administração foi removido para dar lugar a mais sepulturas. Sem o acordo de expansão este cemitério poderá ser encerrado.

cajuo acesso central coberto
Caminho central coberto do Cemitério Comunal Israelita do Caju, foto do autor

O comunal israelita optou por túmulos de média altura sem qualquer lápide vertical, na tentativa de criar um ambiente menos opressivo. Em 1975 foi inaugurado um Memorial do Holocausto, composto por seis grandes pedras trazidas de um rio de Teresópolis, simbolizando os seis milhões de judeus mortos pelos nazistas. O memorial está logo à entrada ao lado da capela.

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Memorial do Holocausto do Cemitério Comunal Israelita do Caju, foto do autor

NILÓPOLIS

nilopolis entrada

A comunidade judaica de Nilópolis começou a ser criada em 1920 com a chegada dos primeiros imigrantes europeus para aquele município, principalmente judeus alemães, e poloneses das regiões de fala alemã. Em seu auge, esta comunidade tinha apenas 300 família e muitos nasceram, viveram e morreram neste município vizinho ao Rio de Janeiro, hoje parte do Grande Rio.

nilopolis-aerea

O Cemitério Comunal Israelita de Nilópolis também foi criado no alto da colina, na área de indigentes do cemitério municipal com o qual compartilha seu muro dos fundos. Foi inaugurado em 1934 e o primeiro sepultamento ocorreu no ano seguinte.

cemitério comunal israelita de nilópolis grande número de túmulos recuperados
Vista parcial do Cemitério Comunal Israelita na Nilópolis, foto do autor

Nos últimos anos foi totalmente reformado e vem sendo uma opção de baixo custo para a comunidade judaica e é o local utilizado para os sepultamentos gratuitos de quem de fato não tem como arcar com as despesas. Há pouco mais de 1.000 sepulturas e espaço para alguns milhares de túmulos.

cemitério comunal israelita de nilópolis quadras vazias
Mais de 3/4 do Cemitério Comunal Israelita na Nilópolis ainda não foram utilizados, foto do autor

Este cemitério possui o que era a única Guenizá (túmulo para rolos de Torá danificados e outros objetos litúrgicos e livros religiosos), até a criação da segunda no Cemitério Israelita de Vilar dos Teles nos anos 1990. Assim todos os sepultamentos litúrgicos a partir de 1934 ocorreram neste local. Foi construído com espaço de 9 metros cúbicos.

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Guenizá do Cemitério Comunal Israelita na Nilópolis estabelecida em 1935 com exterior reformado em 2009, foto do autor, ainda não foi localizada foto da instalação original.

O cemitério fica totalmente cercado por uma Comunidade local, que em 2015 se encontrava tomada pelo tráfico, dificultando sua utilização e tornando pouco segura a ida lá. O cemitério municipal passa por dificuldades ainda maiores, pois os criminosos violam túmulos e os utilizam para esconder armas e drogas. Durante a reforma do cemitério Israelita, a Comunal asfaltou todas as ruas do acesso e entorno do cemitério melhorando a vida de toda a Comunidade.

nilopolis placa

O maior problema para o uso deste cemitério é o acesso feito pela Avenida Brasil que pode demandar uma viagem de mais de duas horas entre a Praça da Bandeira e o cemitério, em dias não muito complicados.

A Comunal Israelita também faz a manutenção dos mais de 2.000 túmulos judaicos da quadra de acatólicos do Cemitério São Francisco Xavier, seu vizinho de muro. Quando o Israelita do Caju foi fundado um número considerável de sepulturas judaicas foram exumadas e  transferidas por familiares do Caju católico para o Caju israelita.

Vídeo oficial produzido pela Comunal Israelita em 2011 sobre os três cemitérios.

© 2014 José Roitberg - jornalista e pesquisador
ABEC - Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais

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