Neste fim de semana estava revendo meus arquivos para escrever algo sobre Beslan, quando percebi que havia um tema não abordado. Como a mídia impressa retratou o massacre?
Em relação à mídia, inclusive no evento recente da ONU no Rio de Janeiro, ficou absolutamente claro que há um conceito internacional muito bem definido: nazis, comunistas e jihadistas declaram que os judeus controlam a mídia; comunidades judaicas reclamam que a mídia é anti-israelense chegando ao antissemitismo clássico; militância islâmica e palestina afirmam que a mídia é pró-israelense e pró-judaica. Tem algo muito errado aí.
A resposta é bastante simples. Cada grupo de interesse ou até mesmo cada pessoa que reclama, lê o que lhe interessa. Então hoje esta matéria desagrada este grupo. Amanhã outra desagrada outro. Uma carta claramente antissemita é elogiada pelo outro lado como a expressão da verdade que deve ser levada a todos e elogia o jornal, enquanto o lado judaico acusa o jornal de ser antissemita. Mas a militância judaica é passiva demais: não elogia as mídias quando elas se posicionam favoravelmente aos seus interesses. Que leitura um "dono de mídia" poderá ter? Escrevo A e este grupo me elogia. Escrevo B e aquele grupo reclama, enquanto o pessoal ligado ao grupo B não fala nada. Então qual é meu público? O que apóia o que publico e não o que apenas reclama... Bem lógico, né?
Sobre Beslan, bem como antes, sobre o teatro em Moscou, o massacre ficou definido como sendo obra e graça das forças policiais do estado russo. Os terroristas chechenos ou da Inguchétia abertamente ligados a Al-Qaeda, com agenda política clara, com a forma de ação mais covarde possível foram contabilizados entre os massacrados e não como agentes do massacre. Uma negação institucional do que todos viram e das declarações abertas da Al-Qaeda: "Nós fizemos, por isso e por aquilo"... Não, vocês não fizeram, replicou a mídia. Igualzinho o 11 de setembro na distorção dos teóricos da conspiração.
As cartas do leitor a época de Beslan foram basicamente contra a exposição de crianças russas mortas nas folhas dos jornais, principalmente pelo Globo. Jamais foi publicada pelo jornal - não sei se foi recebida - carta dizendo o mesmo sobre a exposição de crianças palestinas mortas. Ao contrário, neste caso as cartas se apoiavam nas fotos para tecer um discurso antissemita aberto. Ao expor em primeira página crianças iraquianas (não se pode dizer muçulmanas no jornal...) sorrindo e brincando com o corpo mutilado e carbonizado de um soldado americano pendurado numa ponte, o jornal trata o fato como positivo para o Iraque mostrando a insatisfação do povo contra os americanos.
A exposição de crianças mortas nos jornais brasileiros tem algumas explicações importantes. O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe claramente. Mas a lei é mal redigida como quase todos no Brasil e se aplica não à mídia, mas à criança: só não pode mostrar se a criança for brasileira. Os muçulmanos radicais usam suas crianças mortas como elemento de propaganda de guerra. Os israelenses e judeus preservam seus mortos e não liberam suas imagens para uso, sejam adultos ou crianças. No caso de Beslan, é apenas o fotojornalismo da barbárie, num país que prefere mostrar realidades escolhidas para atrair a compaixão internacional e liberou as imagens de suas crianças mortas. Além disso, o bizarro e o grotesto vendem.
As cartas de Beslan diziam ainda mais. Falavam que o massacre cometido pelos russos tinha origem na dominação mundial americana. Diziam que o massacre feito pelos russos usava técnicas antiterroristas americanas. Dizia que o massacre era devido à guerra no Oriente Médio, incluídas aí referências ao Iraque e à Israel. Contei em meu arquivo 27 cartas do leitor publicadas ao longo de 4 dias apenas pelo Globo. Apenas uma, de um judeu, tinha em seu corpo os termos "terrorista islâmico", "Al-Qaeda", "terroristas muçulmanos". Nenhuma falava da covardia de adultos homens e mulheres partirem para uma missão suicida na qual pretendiam levar consigo crianças russas, a serem mortas por bombas, balas e pelo fogo. Nenhuma carta apontava a covardia islâmica e seu desprezo total pela vida de "seres" que não são humanos segundo sua ideologia fundamentalista takfir (tornar outros infiéis não humanos por definição pessoal de um clérigo - sendo proibido o assassinato de muçulmanos e de seres humanos fiéis, tornar - definir - os alvos infiéis e não humanos dá aos terroristas campo aberto para terem a certeza de que não estão cometendo ato algum contra o Islã, muito pelo contrário).
Mas só para deixar claro. Quem criou essa coisa de tornar outros infiéis e não humanos, não foi o Islã, foi a Igreja na época das Cruzadas, quando o Papa da vez emitia um decreto chamado de Bula Papal que absolvia os cruzados "pelos pecados que viessem a cometer", portanto os massacres, estupros, roubos etc estavam previamente anulados perante Deus pelo Papa e seus soldados da cruz podiam fazer o que quisessem sem temer o Inferno.
Sobre Beslan, ficou claro, por mais uma, vez a estratégia de ignorar o conflito religioso entre a Jihad Islâmica Mundial, que pretende a transformação do mundo num grande paraíso elevado a Maomé - dizem e escrevem isso abertamente - e o cristianismo. No caso o cristianismo ortodoxo na Rússia. Removendo do discurso e dos textos a guerra religiosa real, não sobra conteúdo algum para justificar o que ocorreu no teatro em Moscou e depois na escola em Beslan recaindo a culpa no Estado e sua atuação e não nos terroristas cruéis, bárbaros e covardes. A coisa toda foi tratada como um incidente policial, uma grande ação de tomada de reféns com um resgate desastrado. E neste escopo, os editores de seções de cartas selecionaram (palavra que os judeus odeiam) o conteúdo que mais se adequasse à banalização e idiotização da Jihad Mundial, levando os leitores a crêrem, mais uma vez, que ela não existe. Acredite no que os jihadistas dizem!
Lembramos hoje não só das crianças cristãs que foram ativamente enviadas para o Inferno pelos fundamentalistas islâmicos, conforme os ensinamentos que pregam, mas também o início oficial da Segunda Guerra Mundial com a invasão nazista da Polônia. Fato que mesmo publicado à exaustão pela máquina de propaganda nazista da época, os revisionistas-mentirosos do Holocausto defendem não ter existido: a Alemanha simplesmente foi defender a população de origem germânica no Oeste da Polônia.
Neste ponto você deveria perguntar: o que tem isso a ver com os judeus resisitindo no Gueto de Varsóvia e em outros, serem apenas jovens e velhos? Onde estavam os militares judeus pois o serviço militar era obrigatório na Polônia? Esse é um assunto pouco discutido. A Polônia se mobilizou algumas semanas antes de setembro. Todos os reservistas foram convocados. Entre os pouco mais de 3 milhões de judeus poloneses havia uns 120 mil com idade adequada e treinamento militar. A grande maioria era composta por soldados, mas havia todas as patentes até generais. Cerca de 30 mil foram mortos em combate: quase 45% das perdas totais. Alguns historiadores afirmam, baseados no relato de dois ou três sobreviventes, que este número elevado se deveu não só ao exército polonês mandar os judeus na frente, mas também a vontade dos judeus de lutarem contra o nazistas. Um número relevante de condecorações militares das mais simples às mais altas foram dadas à militares judeus nesta campanha. Você pode não ter percebido e ninguém falou isso antes para você: esses 120 soldados judeus compuseram a maior força militar judaica desde os tempo bíblicos de David e Salomão. Este é um tópico que se ignora completamente. A Polônia resisitu ao avanço nazista.
As perdas em combate foram cerca de 10.500 soldados alemães mortos acrescidos por outros 5.000 desaparecidos e uns 30 mil feridos. Do lado polonês foram 66 mil mortos, 134 mil feridos e 420 mil prisioneiros. Entre estes, todos os que eram identificados como judeus foram executados sumariamente, não contabilizados entre os mortos em ação e sem deixar rastros ou documentação. Parte do exército polonês conseguiu fugir para a Hungria e de lá para a França e Inglaterra, onde formaram batalhões poloneses. Os soldados judeus que conseguiram sobreviver tanto aos nazistas por um lado quanto aos soviéticos por outro se conta com os dedos e praticametne não há referências a eles nos diários dos guetos e da resistência judaica. Alguns, achando que podiam sobreviver se incorporaram às polícias dos guetos. Pela idade apta para o trabalho, certamente estiveram entre os primeiros a serem enviados para o trabalho escravo local até morte sob domínio nazista. Quando chegou o momento em que a reação nos guetos pode acontecer, não havia mais homens vivos na faixa etária de serviço militar, incluindo aí a maior parte dos policiais dos guetos.
Os dados historicamente mais aceitos para a ocupação nazista da Polônia são: 3 milhões de judeus e 2 milhões de poloneses massacrados; 100 mil poloneses não judeus massacrados pelas tropas nacionalistas da Ucrânia (pró-nazi - haviam fugido para lá); 250 mil militares poloneses mortos em campos de prisioneiros, trabalho escravo ou concentração na Alemanha; algo em torno de 300 mil soldados poloneses aprisionados pelos Russos, quando invadiram a Polônia pelo Leste dividindo-a com Hitler - Pacto Ribentrop/Molotov - (destes, estima-se que 130 mil tenham sido mortos em campos de concentração soviéticos); 350 mil civis poloneses mortos do lado soviético durante 1940-41. No total a Polônia perdeu quase 22% de sua população. Mais de 90% deste total eram civis.
José Roitberg - jornalista e Coordenador do Vaad Hashoa Brasil