quarta-feira, 14 de março de 2012

A Bomba A não está no Irã

Em janeiro de 2008 eu estava em Jerusalém em um curso. Passamos alguns dias na Universidade de Jerusalém e um dos temas abordados foi exatamente o ataque ao Irã. Era o momento exato da última eleição e a discussão era: quem é melhor para liderar o país no ataque ao Irã? Tzipi ou Bibi? Todos tinham a certeza de que era Bibi, e este deve ter sido um fator determinante para a vitória dele. Só que o mandato está na reta final e o ataque não saiu.

 

Em janeiro de 2008 se dizia que a linha final para o ataque era outubro de 2008, pois seria quando o Irã estaria em condições de fabricar a bomba. Bem, estamos em março de 2012 e nada realmente aconteceu. O ataque contra o reator nuclear da Síria, com tecnologia da Coreia do Norte foi em setembro de 2007. Impressionante como passou rápido este tempo. Ele também estava ao nível do solo - como o iraquiano na década de 80 -  e foi completamente arrasado em instantes. Foi cosntruído numa cidade de fronteira entre Síria e Turquia. Nunca ficou claro que outras instalações foram destruídas por que a Síria nem reclamou. A ONU confirmou que era um reator. E hoje, Cuba está cobrando da ONU sanções à Israel relacionadas com este ataque.

 

Mas reatores nucleares não são necessários para a produção de armas nucleares. O Egito, por exemplo, tem 3 ou 4 reatores nucleares ativos, o mais antigo desde antes da Guerra do Iom Kippur e nunca foram atacados ou o Egito acusado de nada. O que é preciso são as centrífugas de enriquecimento de urânio. Para entender de forma alegórica, imagine um tubo cheio de pó de urânio que é girado (o pó) em alta velocidade. As partículas mais pesadas, por ação da força centrífuga são jogadas contra a parede do tubo e capturadas. Elas são passadas para outro tubo, depois outro, depois outro - é o que se chama cascata. Em cada tudo se obtém átomos de urânio com um grau de enriquecimento maior, ou seja, mais pesados. Quanto mais pesado o isótopo de urânio, mais radioativo ele é. Para chegar ao grau de enriquecimento militar, um urânio que exploda, se precisa atingir 70%, o que significa 70% do volume em isótopos mais pesados e 30% do volume em "outros urânios". Isso é lento, caro e complicado. Para cada kg de pó de urânio (yellow cake) que entra numa centrífuga, algumas frações de grama, chegam lá no final com 70%, isso, se houver tecnologia suficiente para essa captura. Então, de forma leiga, é preciso ir juntando frações de grama todo dia até ter os kg necessários para uma bomba. E o Irã é bom nisso. Enquanto o Brasil possui, pelo que se sabe umas 30 ou 40 centrífugas que rodam 24 horas por dia, o Irã possui algo entre 5.000 e 10.000. E isso ocupa muito espaço. Um ataque a estas instalações não causa contaminação nuclear e é o alvo principal.


Quando a Kadafi desmobilizou o seu programa nuclear e o entregou aos EUA, lá estavam algumas centenas de centrífugas norte-coreanas. Só que estas centrífugas não estão na superfície. Estão enterradas em bunkers muito modernos. Tão modernos que o Irã chegou a divulgar o projeto deles e seu layout (verdadeiro ou não) para mostrar que é inútil tentar atacar. E o programa nuclear iraniano está espalhado em 100 locais conhecidos dentro do imenso território do Irã e certamente em mais um monte de locais secretos que nós não conhecemos mas é dever da CIA e do Mossad saberem onde e o que são.

 

Os caras são espertos. Não há um ponto a ser atacado que arrasará o programa nuclear iraniano. É preciso atacar um monte de alvos. Todos protegidos por artilharia anti-aérea de última geração e pela força aérea iraniana. Na verdade existe uma forma relativamente simples mas não especificamente precisa de encontrar os locais de alvos. Basta procurar as posições de artilharia antiaérea em locais insignificantes que não mereceriam ser protegidos. Mas andei dando uma fuçada nisto e vi pelo Google Earth que em tudo quanto é canto do Irã, existem pistas de pouco e posições de artilharia e mísseis antiaéreos. Hoje temos o Google que é muito superior aos satélites espiões até os anos 1980, portanto é algo válido de se obervar. Só que pelas fotos ninguém pode afirmar o que é uma posição verdadeira e o que é uma falsa, com um míssil de compensado, papelão e lona, por exemplo. Só par citar, durante muitos anos, os assustadores mísseis balísticos nucleares chineses mostrados nas paradas militares eram falsos e os analistas americanos quebravam a cabeça com a proliferação de modelos ano a ano.

 

Mas em 2008, em Israel, dizia-se na Universidade que os planos de ataque ao Irã estavam feitos há muito tempo e que faltava a coragem do governo de mandar seus pilotos para uma missão que resultaria em 50% ou mais de baixas. Judeus não são tidos a isso. Se fossem iranianos, mandariam para uma missão de 100% de baixas sem nenhuma dificuldade. Em 2008 eu afirmei lá que o problema das baixas era apenas político e de mídia, pois se perguntassem aos pilotos, todos seriam voluntários para missão, pois qualquer piloto de combate se considera "morto" assim que é efetivado na posição. Todos os israelenses, inclusive dois ex-pilotos de 67 e 73 concordaram.

 

E aí o tempo foi passando e o tempo é favorável aos dois lados. A cada instante que passa, os iranianos podem jogar mais uma pá de areia ou colocar mais um saco de cimento e a cada mês que passa, os armamentos ocidentais e sistemas de controle de alvos são aprimorados. O que se tem hoje de tecnologia stealth, de armas contra bunkers enterrados, de aviões robô com altíssima capacidade de cumprir missões e carregar armamento, de mísseis cruise evoluídos (inclusive stealth) etc é muito superior ao que havia em janeiro de 2008.

 

As bombas atuais contra bunkers que serão usadas no Irã e no Líbano tem alto poder de penetração vertical no solo e explodem lá embaixo provocando um tremor de terra usando as ondas de choque para destruir internamente o que estiver dentro dos bunkers. Como as explosões são subterrêneas pode-se contar com a certeza de ataques com explosivos convencionais e com explosivos nucleares. Não há porque deixar de usá-los nesta questão. Se é preciso arrasar um bunker, optar por uma carga de 1 ton (uma tonelada) de explosivo militar (que deve equivaler a umas 10 ton - 10 toneladas de tnt) ao invés de uma arma nuclear muito pequena (existem para artilharia desde os anos 1960 com 15 kt  - 15 kilotons - equivalente a 15 mil toneladas de tnt). Então, as armas existem.

 

Para levar estas armas até os alvos é preciso contar com os sistemas Stealth americanos. Os enormes bombardeiros B1 podem atacar o Irã decolando dos EUA, até mais fácil que atacar o Afeganistão. Fizeram isso centenas de vezes no Iraque. E também com o caças F-111, os novos F-35 e o monte de aviões robô que andam por aí, inclusive aquele que caiu no Irã e ninguém sabia sequer que existia. Note que estamos falando do que se sabe que existe. E no caso de Israel deve-se esperar um uso inusitado do que existe e tecnologias surpreendentes que ninguém conhecia.

 

À força aérea de Israel deve caber a função de combate com a força aérea iraniana, ataques ao solo contra posições de radar, centros de comando, unidades militares da Guarda Revolucionária, e principalmente o programa de foguetes e mísseis que não é enterrado. E também a parte mais complicada: o Hezbollah.

 

Hezbollah é parte integrante do tripé de governo da revolução iraniana. Não é um elemento libanês na questão. Guerra com o Hezbollah é guerra com o Irã e isso já aconteceu uma vez: são indissociáveis. A Síria xiita, ocupou o Líbano por 25 anos e depois foi substituída pelo Irã xiita através do Hezbollah.

 

Israel criou o único sistema antimísseis de curto alcance que funciona. Os EUA e soviéticos nunca conseguiram fazer. O Domo de Ferro funciona de fato, mas é caro (50 mil dólares o disparo), muito lento, apenas 20 foguetes por bateria, e, de forma não divulgada, de construção complicada e demorada: há apenas 3 em operação com uma quarta bateria programada para daqui há duas ou três semanas. Há pouco tempo atrás houve um erro no recarregamento de uma unidade e os foguetes caíram no chão: 1 milhão de dólares de prejuízo.

 

Israel deveria dar a prioridade da produção para estas baterias e seus foguetes. Mas não dá.  Se os EUA lançavam um navio cargueiro ao mar a cada 2 dias na segunda Guerra, qual é o problema de construir o Iron Dome de forma realmente veloz em linha de produção? O problema pode estar em sua ineficiência apesar de praticamente 90% de acerto nos disparos, como temos visto.

 

O inimigo nunca é burro. Muito pelo contrário. Se eu tenho UMA bateria do Iron Dome defendendo Ashdot e ela só dispara 20 vezes antes de ser recarregada e de forma lenta, precisando de caminhão de apoio, guindaste etc, o que eu faço? Lanço 25 foguetes, perco 20, cinco atingem a cidade e depois eu tenho o tempo da recarga do Iron Dome para disparar quantos mísseis eu quiser, sem qualquer tipo de oposição. Mas em relação ao Hezbollah, estamos falando de dezenas de milhares de mísseis e isso deve ser verdadeiro. Não há sistema antimíssil que dê conta do recado, mesmo que a direção do ataque seja uma só: "vem de lá", não tem outra rota...


Fico imaginando uma linha de 5 unidades do Iron Dome alí acima de Naharia, com 100 foguetes prontos para serem disparados - num custo de 5 milhões de dólares - e o Hezbollah partir para um primeiro ataque com 500 Fajrs... Rapidinho a conta da recuperação dos danos pelos impactos dos foguetes será mais barata que o disparo do Iron Dome.


O ataque de Israel contra o Irã é um problema do Irã que não vai conseguir atingir Israel. Mas o ataque do Hezbollah contra Israel é um problema de Israel e a guerra será muito mais terrível que a anterior pois o Hezbollah está mais entrincheirado, seus bunkers e táticas de lançamento de mísseis foram aprimorados, e principalmente há um fator financeiro perverso: a defesa custa bilhões de dólares para Israel mas o ataque não custa nada para os palestinos ou para o Hezbollah que são simplesmente abastecidos com o que precisam.

 

E em minha visão é aí que está todo o erro da questão. Os mísseis iranianos e coreanos não chegaram ao Líbano e muito menos à Gaza por um portal mágico do Harry Potter... Foram levados para lá e não foram de navio, pois todos os que tentaram foram interceptados. Muito menos os enormes mísseis militares passaram pelos estreitos túneis de contrabando de Rafá. Estes mísseis não podem ser desmontados em parte menores, que mesmo assim ainda seriam muito grandes. Eles são podem ter entrado em caminhões. E para Gaza, os caminhões só podem ter vindo pelo Sinai, pelo Egito. E para chegar aos caminhões, os mísseis foram desembarcados em portos e aeroportos egípcios, contabilizados, armazenados e distribuídos. E não estamos falando de uma carga. Estamos falando de milhares e milhares de equipamentos militares Iranianos e Norte Coreanos que passaram pelo Egito com o apoio de Mubarak e depois do governo atual que é mais favorável ainda aos palestinos.

 

As pessoas precisam parar de imaginar que há outra rota desta imensa parafernália militar iraniana para Gaza que não seja com o apoio TOTAL do Egito! Ao norte a rota era Irã xiita, Síria xiita e Hezbollah xiita. Algum dia, após a próxima guerra, este governo que hoje está em Israel vai ter que explicar porque estas rotas de abastecimento de foguetes não foram atacadas de todas as formas possíveis. Se disserem que não podiam atacar em território egípcio, então pergunte: porque não abateram os caminhões com mísseis assim que cruzaram a ÚNICA entrada que há em Rafá? Eu tenho a certeza, e vc também de jamais ter ouvido uma notícia da IAF ter atacado um comboio com mísseis entrando em Gaza. Por que?


E como todo esse material de porte enorme, exigindo milhares de cargas de caminhões grandes para seu transporte, navios vindos da Coreia do Norte, aviões cargueiros militares etc, por que é que temos que acreditar que no meio dessa tralha toda não vieram armas nucleares prontas da Coreia do Norte? Os caras são bonzinhos? Vão vender os foguetes, mas não vão vender a bomba? 


Na boa, meu amigo. Se há bomba, ela está no Líbano, com o Hezbollah, que vai lançar sim e vai ser sobre Jerusalém pois aquilo lá não significa nada para os xiitas.


José Roitberg - jornalista

segunda-feira, 12 de março de 2012

Lute pela verdade na Wikipedia

Os que querem entrar na batalha pela verdade na Wikipedia tem uma nova arma. Acabei de encontrar (imagem em anexo) uma área de avaliação de credibilidade para os artigos, que pode ser preenchida rapidamente por qualquer pessoa. Não sei se aparece em qualquer verbete, nem vi isso há dois dias atrás. Se você não tinha outra arma para combater os mal intencionados, agora talvez queria se dedicar um pouco a limpar a Wikipedia.