domingo, 13 de abril de 2014

OS TRAIDORES DE JESUS CRISTO

Domingo antes da Páscoa. Domingo de Ramos. O que lemos? "Papa pede a católicos que reflitam se são fieis a Jesus ou traidores... pediu para que os católicos se questionem se são como os que traíram Jesus Cristo ou foram corajosos e fieis a Ele até o final...'Sou como Judas, capaz de trair Jesus, ou sou como os discípulos que não entendem nada, que dormiam enquanto que o Senhor sofria? Minha vida está adormecida?', indagou o papa argentino. Esta é a pergunta que será impressa em todos os sermões padronizados da Páscoa. Você não deve saber, mas a CNBB imprime e distribui tais sermões para que em todas as igrejas no Brasil seja lida a mesma coisa, homogênea e em uníssono.

Nossas lideranças comunitárias judaicas beijadoras do anel o mais rápido que podem, vão se calar, achando que com isso liberam a Comunidade Judaica de "sofrer antissemitismo." São incapazes de compreender que isso já é o antissemitismo, anual, com data marcada, toda santa Páscoa... Ou seja, são judeus que ainda se calam e se acovardam perante a Inquisição que nunca parou de nos destruir, e nunca conseguiu terminar o serviço.

O "bom Francisco, hermano", se saiu um bom Papa, alinhado com o que há de mais podre da doutrina católica, mesmo que tal podridão tenha sido banida pelo Concílio Vaticano Segundo, em 28 de outubro de 1965 (sessenta e cinco). Naquele momento, após três anos de reuniões duríssimas, começando com um Papa e terminando com outro (Paulo VI), o Vaticano REMOVEU A CULPA COLETIVA DOS JUDEUS PELA MORTE DE JESUS. Não há mais nenhum clérigo adulto daquela época em função relevante, que esteja vivo. Os cardeais e bispos de hoje são os padres recém formados e nomeados naquele período.

Uma das outras decisões daquele Concílio é mais bizarra ainda. Ela diz que todos os homens tem direito à liberdade de escolha e religião, desde que adotem a religião católica. Eu não estou inventando isso. Eles é que aprovaram isso...

E a decisão do próprio Vaticano, em remover a culpa coletiva, parece ter sido implementada apenas pelos judeus que militam no tal Diálogo Judaico Cristão, caixa-preta, cujas discussões jamais foram publicadas e suas decisões, se houveram, jamais foram implementadas. É um diálogo entre cegos e surdos. Entre oprimidos (os judeus como um todo e não suas lideranças) e opressores (o clero católico, e não o povo como um todo).

Será que Francisco o primeiro, foi tão diferente assim do bento Ratzinger, alemão, membro da Juventude Hitlerista (até porque todos eram obrigados a ser), prefeito da CONGREGAÇÃO DA DOUTRINA DA FÉ (que ninguém é obrigado a ser), e nada mais é que o escritório da Inquisição que nunca foi encerrada? Ratzinger, na primeira páscoa papal dele afirmava nas capas de milhares de jornais "Judas é imundo." Judas, eu, você, os judeus. A consolidação da culpa coletiva. Ao final de seu pontificado publicou um livro que surpreendeu o mundo, contendo um capítulo onde explicava porque os judeus não eram culpados coletivamente pela morte de Jesus. O mundo se estarreceu por uns dias e ninguém mais lembrava que a decisão tinha sido publicada mais de 50 anos antes.

2006 JUDAS É IMUNDO

Ratzinger se limitou a Judas. Francisco expandiu para todos os outros judeus que ou traíram Jesus ou "dormiram" e nada fizeram porque "não entendem nada." Nós ainda somos os judeus que não entendem nada! Nós ainda somos os judeus traidores! Nós ainda somos os judeus que precisam aceitar Jesus para sermos "salvos." A Igreja pode falar que muda, mas não muda: grita em alto e bom som - JUDEUS IMUNDOS, JUDEUS TRAIDORES, JUDEUS INCAPAZES DE ENTENDER!!!

Na Idade Média esta lógica vaticana foi definida como: os seres humanos são capazes de entender; os judeus não são capazes de entender; então os judeus não são seres humanos; o que não é ser humano, ou é animal, ou é demoníaco; portanto mata-los é como matar animais ou matar o demônio. E assim foi feito, por uns mil anos em ações pontuais ou em programas amplos e abrangentes, sempre apoiados através das mídias de cada época.

Judas Iscariotes é um personagem introduzido na teologia católica (na montagem da religião católica), uns 350 anos após os episódios com Jesus. Após o Concílio de Nicéia (em Bizâncio, onde floresceram os primeiro 300 e pouco anos de cristianismo - o cristianismo nunca floresceu na Judeia), o Imperador romano Constantino, sucedido por Teodósio, decide abandonar o politeísmo e abraçar o monoteísmo. Sua decisão recai sobre o culto da Jesus, o Kristo grego, o Messias redentor de pecados e salvador. Mas Constantino não pretendia despender 40 anos de deserto para queimar duas gerações e começar do zero. Impõe ao Império a fé que até então perseguia. Mas como afirmar: nosso governador matou Jesus na cruz e vamos adotar a fé nele. Não dava. Roma e os judeus tiveram décadas de guerras abertas. Era o grande inimigo derrotado recente romano. Como qualquer propaganda padrão de vilanização, a história é reescrita para culpar os judeus, pela morte de Jesus, colocando Pilatos, como o gente boa romano que lavou as mãos.
Na revolta de Spartacus, os romanos crucificaram os derrotados na taxa de um a cada 100 metros de estrada, desde dentro da ilha da Sicília, até Roma. Não se faz uma ideia correta de quantas centenas de milhares de pessoas de todas as partes foram crucificadas pelo Império Roma, cuja cruz era o principal símbolo de poder pois significava a morte terrível e exposição do corpo por dias a fio. Como transformar o símbolo da morte no símbolo da vida? Ah... Constantino diz que sonha com ele de foram positiva e como é um imperador-deus, o que ele sonha ou diz é a verdade incontestável.

Lavar as mãos fazia parte do início dos ritos de qualquer julgamento Romano. Pilatos não fez diferente. O que sucedeu o Império Romano foi a Igreja Católica Apostólica Romana (não por estar em Roma - até porque não estava -, mas por ser o próprio império). A figura do Papa, substituiu a figura do César, imperador divindade. Reescrevendo a história, o Império Romano decidiu deixar para lá, o fato de Pilatos ter crucificado cerca de 10.000 judeus e essênios, durante sua governança - só é lembrado por três - e também o fato dos diversos reis (impostos pelos romanos) de nome Herodes, não terem sido judeus (era uma família de idumeus) e serem intencionalmente confundidos uns com os outros na teologia. O do momento de Jesus era tão gente boa que matou o pai a parte da família, para assumir o trono... Pilatos foi o único governador romano a ser preso. Foi julgado em Damasco, onde o Senado se reuniu e condenado ao exílio na Gália, Norte da França, onde seu nome desapareceu para sempre. Sua condenação foi por ter feito cair a arrecadação de impostos da Judeia, matando 10.000 pagadores de impostos. Este foi o crime de Pôncio Pilatos...

Na época de Jesus, os judeus não tinham sobrenomes. A maioria dos sobrenomes judaicos só começa a consolidar em meados do século 18. Os romanos tinham. Mas os teólogos de Niceia parece que não entenderam isso muito bem e criaram um Judas com sobrenome: Iscariotes. Segundo os historiadores israelenses atuais, Judah Ish Ha Irot (Judeu Homem das Cidades) era uma designação pejorativa para um um judeu qualquer do qual não se conhecia o nome. Durante ainda muitos séculos antes e depois, viver nas cidades era algo ruim e viver nos campos era algo bom. Como Zé Ninguém, Zé Mané, ou John Doe. Quando se cria um nome como "um judeu qualquer", essa coisa se torna "qualquer judeu", com o tempo.

Ainda dentro da montagem teológica católica, Jesus chamava-se, em aramaico, Yeshua Bar Yossef. E quando Pilatos pede ao povo judeu, improvavelmente reunido num julgamento romano, a escolher quem deveria ser salvo, o povo escolhe (segundo a teologia) Barrabás, que nada mais é que Bar Abba, o Filho do Pai. E só tem um "filho do pai" nesta estória toda, que é Jesus. O povo escolheu a vida de Jesus o judeu, e a teologia declara que nós ladrões escolhemos o ladrão Barrabás.

Não havia apóstolos cristãos nesta história. Todos eram judeus. Jesus jamais se declarou como messias, e a teologia de 30 a 150 anos após a sua morte criou toda a mitologia em torno de sua vinda e passagem pela terra. Por cerca de 100 anos após a morte de Jesus, não havia culto monoteísta diferente do culto judaico. Não havia igrejas, apenas sinagogas e guerra cruel contra os romanos.

A teologia é tão contundente que lhe cria o nascimento de Jesus a partir de um ventre virgem de uma judia, Miriam, para que seu caráter divino fosse aceito pelos politeístas romanos e gregos, já que praticamente todos os semi-deuses e alguns deuses destas crenças nasceram de forma exatamente igual, mais de 300 anos antes: um deus, gera um filho em um ventre humano normal, e dele nasce um semi-deus grego e romano. A repetição teológica de José e Miriam não é coincidência também.

Ainda assim, toda a crença católica e cristã ortodoxa ou cristã evangélica não se baseia no que Jesus fez ou deixou de fazer: se baseia em sua ressurreição, vencendo a morte. Portanto, caso Jesus não tivesse sido executado, não teria "ressuscitado" e não haveria religião católica nem haveria cristãos no mundo.

Então se você acredita na culpa coletiva, agradeça aos judeus. Mas se você não acredita na culpa coletiva, continue sendo um bom católico e um bom cristão, pois como em qualquer religião o grupamento político, as lideranças é que põe tudo a perder.

Se alguém traiu Jesus, foram os romanos que varreram da história o projeto Reino de Deus, um projeto judaico.

© José Roitberg - jornalista e pesquisador - 2014