Nova jornada para ampliar a compreensão sobre os mais de 2.000 túmulos de judeus no Cemitério de São Francisco Xavier. Desta vez a quadra mais antiga foi totalmente fotografada. Todos os túmulos estão documentados e detalhes considerados à parte. Na foto, eu estou no centro da área destinada às crianças. Como se pode ver, ela se estende ainda por mais algumas fileiras até aqueles dois túmulos semelhantes no centro lá atrás.
Um destaque ruim desta área é a falta quase em 70% dos túmulos de qualquer identificação exceto o número da sepultura. Sabemos que existe uma lista em poder da Comunal, e que há uma intenção de identificar ou identificar pela primeira vez, todos os túmulos com problemas neste cemitério. Por exemplo, estes túmulos que se veem em cimento esverdeado, já se trata de trabalho de preservação da gestão de Jayme Salomão.
Em relação aos túmulos de crianças há algumas curiosidades. Em quase nenhum há a inscrição definindo-o como sepultura perpétua, mas não foram exumados. A maioria deles é simples indicando uma origem pobre, como o que está à minha direita na foto e o outro túmulo rente ao chão, mais para a esquerda. Mas há túmulos de crianças de famílias com posses, como este em primeiro plano, com uma coluna de mármore partida e flores caídas, uma indicação universal para todas as religiões, de morte com pouca idade. Mais atrás vemos um túmulo bem alto com urna (para a alma) e uma grande estrela de david em mármore, túmulo caro até para os padrões atuais. O anjo é de um túmulo de protestante.
Naquele período histórico os judeus preservavam muito suas culturas cemiteriais dos países de origem, então podemos afirmar, quase com certeza, de que os túmulos rente a chão são de crianças de origem árabe e os outros de europeus, mesmo que sejam sefaradim.
Nas outras fotos, temos o túmulo judaico de número geral 3 da ala de acatólicos do Caju. É um daqueles casos deve nos fazer pensar sobre a propalada "pobreza geral" dos imigrantes judeus, algo que não considero como realidade, apesar de metade de minha família ter vivido com trabalhos muito aviltantes por vários anos na Argentina, Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte e outra parte com todos os homens trabalhando como Klienteltchics no Rio de Janeiro.
O túmulo do jovem Mauricio Scharfman z'l, dá a tradução do termo 'matzeiva', que é monumento, o sentido da palavra. Nasceu em 1851 na desconhecida Berlad, na Moldávia e faleceu no Rio de Janeiro, cinco dias antes de completar 28 anos, em 1879, ainda no Império Brasileiro, ainda na época da escravidão. Ao contrário de outros túmulos judaicos destes período no Brasil, há um lado do monumento perfeitamente escrito em português e outro em yídiche, com o símbolo dos coanim. Geralmente, nesta época, são túmulos em alemão e yídishe. A arte do monumento tem elementos curiosamente góticos e pouco encontrados em túmulos judaicos.
A família Scharfman ainda existe no Brasil e assim podemos notar que estão entre os primeiros imigrantes da Europa Oriental. Humildemente peço desculpas à família e espero que considerem esta pequena matéria como um resgate de sua memória familiar em benefício da história dos judeus no Rio de Janeiro.
Quando vou ao São Francisco Xavier digo um kadish coletivo para os mais de 2.000 judeus de lá. Certamente isso ajuda.
@ 2015 José Roitberg – jornalista e pesquisador, membro da ABEC
Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais