Sinopse e adaptação da análise publicada em Israel pelo cientista político Dr. Amiel Ungar. Se você imagina, como vem saindo na mídia que o veto tem algo a ver com o povo ou o governo da Síria ou com investimentos e influência russa e chinesa da Síria, esta enganado. Segundo do dr. Ungar, o veto é apenas relacionado com interesses políticos internos de ambos países e nada tem a ver com a Síria. É uma argumentação interessante e se for correta, dá para entender o que está acontecendo.
Depois de um complicado acordo que obteve o consenso do Conselho de Segurança da ONU, Rússia e China vetaram uma resolução fundamental contra a Síria. Imediatamente as tropas do governo iniciaram uma ofensiva passando de confrontos e combates de rua para ataques generalizados de artilharia e tanques contra bairros civis em várias cidades, coisa similar ao que Kadafi fez na Líbia e que detonou a Zona de Exclusão aérea e consequentemente os ataques devastadores da ONU contra as forças armadas leais ao falecido ditador líbio.
1. No caso da Líbia a opinião dos países árabes mudou a luz vermelha acesa na China e Rússia, para amarelo, permitindo a intervenção. Lembre que na época o Hezbollah e até mesmo a Síria apoiaram esta intervenção. Parte da atitude russa e chinesa de hoje é baseada no sentimento deles de que eles não tiverem controle nenhum sobre o que aconteceu na Líbia e as tropas da ONU (não só ocidentais) tomaram toda a iniciativa, sem consulta. Não querem que isso ocorra novamente, agora na Síria.
2. ESTABILIDADE - Os governos russo e chinês estão levando ao limite o fator estabilidade para legitimizar um regime autoritário. Há desestabilidade em ambos países. Putin acredita que revoluções e instabilidade vão mandar a Rússia de volta para o passado. A China vem esmagando todas as manifestações pro-democracia, perdendo dissidentes democratas, porque eles representam uma ameaça à estabilidade chinesa que atingiu e parece que vai continuar atingindo suas ambiciosas metas econômicas.
Se o regime de Assad for deposto na Síria isso vai passar a mensagem oposta (já lida várias vezes no último ano) de que as manifestações funcionam. Quando a primavera árabe surgiu na mídia chinesa tentou ignorar, não informando ao povo. Depois passou a explicar que a situação na China é completamente diferente e que aquilo não poderia ser replicado na China.
3. EXTREMISTAS MUÇULMANOS - Ambos regimes temem os extremistas muçulmanos e sua habilidade de infectar as populações muçulmanas nos dois países. A Rússia se envolveu em combates terríveis na Chechênia contra os muçulmanos e a China tem uma relação muito complicada com mais de 25 milhões de muçulmanos uigures no oeste do país, que possuem agenda separatista de criação de uma república islâmica. Ambos países veem na Síria um regime político que manteve os extremistas sob a bota, sob controle. Eles temem que o regime que vai suceder Assad será um regime islamista. Putin já deixou bem claro aos países ocidentais que está irado com o que eles estão permitindo que ocorra no mundo árabe - os regimes militares passando para islâmicos pela sharia. Israel compartilha dessa visão. Um dos motivos técnicos mais básicos é que os islamistas e extremistas passarão a controlar o aparelho de estado, tendo acesso a toda sua capacidade tecnológica de informação e o controle de todo o arsenal de armas convencionais e não convencionais. Nos regimes islamistas não há, nem haverá mais controle sobre o roubo, cessão ou repasse destas armas para os grupos extremistas jihadistas terroristas. A Guerra ao Terror no Afeganistão poderá vir a parecer uma operação simples, comparada ao que poderá vir.
4. MULTILATERALISMO - Rússia e China veem o ocidente como a força por trás dos movimentos pela democracia. A Rússia está do lado perdedor deste tipo de revolução na Ucrânia, Georgia e Sérvia, que derrubaram seus líderes pró-Moscou. Ambos veem estas revoluções como tentativas ocidentais de agir unilateralmente na arena global, ignorando os interesses chineses e russos. Mover a decisão sobre conflitos para Conselho de Segurança da ONU onde ambos tem poder de veto, é uma vitória que significa que seus desejos e vontades não poderão ser ignorados.
5. NÃO-INTERFERÊNCIA - Nas suas apostas de fazer amigos políticos e assegurar vantagens econômicas, Rússia e China divulgam uma política de não-interferência. Mugabe do Zimbabwe, o clérigo líder do Sudão e outros ditadores, sabem que Rússia e China não vão pressioná-los em assuntos de direitos humanos e democracia. Por outro lados, China e Rússia tem o apoio destes ditadores em suas próprias confrontações diplomáticas. E os ditadores, em troca, sabem que Rússia e China usarão seu poder de veto em resoluções contra eles (resoluções que seriam a favor dos direitos humanos e pela democracia). Isso dá uma vantagem a russos e chineses nos investimentos econômicos nestes países e vendas de armas. Graças a esta lógica, Rússia e China investem pesadamente nestes regimes ditatoriais e detém que percam estas vantagens se os governantes forem trocados em eleições ou removidos em revoluções.
Assim, você passa a ver que não há nada relacionado com a matança de sunitas por xiitas na Síria que realmente preocupe Rússia e China. O básico do conceito deste veto é a mensagem que vetar e não vetar passa para os militantes internos destes dois países e para os países ditatoriais com os quais tem relações. Para russos e chineses, os sírios que se danem!
José Roitberg - jornalista
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