quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O CONTO DO FIM DO MUNDO

Sua fé é superior a dos outros? Não conheço ninguém que afirme ter uma fé pior que de seu vizinho. Ninguém que afirme cumprir os preceitos da religião errada. Mas os mitos de uma fé valem para as outras fés? Não só valem, como se sobrepõe. A história da civilização (ou incivilização) nos mostra a luta incessante, do início até este momento, das fés tentando se sobrepor umas as outras, como a verdadeira e definitiva.

Mas cada fé, exclui, por dogma (aquilo que não pode ser contestado), os mitos das outras fés. Há um dogma dentro do judaísmo que é verdadeiro para os judeus religiosos e estranho para todos os outros: caso uma pessoa se converta do judaísmo para outra religião, tal conversão é inválida, na visão judaica ortodoxa, porque o judaísmo não reconhece a existência das conversões produzidas por outras fés. Só para constar. Por este preceito, as conversões feitas pela Inquisição, foram válidas para a Igreja Católica e inválidas para o judaísmo ortodoxo. Tanto uns quanto outros, de fora, afirmavam que você era cristão ou era judeu, sem que você tivesse realmente uma possibilidade de interferir de fato em sua crença: não é você que se define, os outros definem você. É claro que nada obriga você a acreditar nestas definições também, até que a chumbo derretido desça por sua garganta ou a bala estraçalhe sua cabeça...Esse é apenas um exemplo próximo.

Sendo assim, pobres dos maias que não conseguiram impor sua fé altamente tecnológica a ninguém nos dias de hoje. Eles tinham fé ou no final dos tempos, ou no final do tamanho da pedra onde o calendário foi inscrito. Mas as fés de todos as outras religiões monoteístas e politeístas nas quais a humanidade se divide hoje, excluem a veracidade das crenças maias, portanto se para os maias tudo se acabaria, para todos os outros isso é uma asneira.

Partir para uma abordagem lógica e imaginar que a pedra tem um limite físico do que pode conter, como nossas folhinhas anuais, e que jogaram a confecção da continuação do calendário para alguns milhares de anos a frente, é pedir demais. Falamos de fé e não de verdade ou de lógica.

Será que algum arqueólogo do futuro vai pegar nosso calendário de 2012, o único que pode ter encontrado e achar que nossa civilização tinha traços de semelhança com os maias, já que para os maias o calendário ia até o dia 21 de dezembro e para o resto da humanidade ia até o dia 31?

A saber: os maias foram a potência hegemônica no que viria a ser a América Central. Acredita-se que começaram seu estado 1.000 anos AC, chegando ao auge no ano 900 DC (curiosamente aquele período de 2000 anos pregados por messiânicos monoteístas). Até a chegada dos espanhóis, ainda conseguiram se desenvolver por mais 600 anos. Sua última cidade-estado foi tomada e exterminada pelos espanhóis apenas no ano 1697. Tudo em nome da ganância pelo ouro, da fé cristã e em nome de Deus, em nome de Jesus...  É normal não ter perspectiva histórica. É preciso entender que a derrota final dos maias aconteceu quase 200 anos depois da última cruzada contra o Marrocos e já com o Império Turco Otomano controlando o Oriente Médio. A Inquisição estava ativa no Brasil. Os maias não desapareceram. Para sobreviver foram se assimilando e se convertendo ao cristianismo. Era esta opção da Igreja Papal: converta-se ou morra, nada diferente da prática dos impérios árabes islâmicos contemporâneos.

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