Um dos ramos de minha pesquisa é mostrar a organização política dos judeus no Rio de Janeiro (depois em outros lugares também) antes da criação de FSIRJ (Federação das Sociedades Israelitas do RJ) em 1947 (atual FIERJ) e poucos anos depois, da atual CONIB. Um dos motivos da criação da FSIRJ e está em seu estatuto inicial, é o acolhimento dos sobreviventes do Holocausto. Mas sabemos pelos nossos historiadores que as coisas não foram bem assim. Houve grupos anteriores, significativos, que representavam a comunidade israelita SIONISTA junto ao governo e à imprensa. Tais grupos não representavam a esquerda judaica e não representavam os sefaradim árabes e turcos já de segunda e terceira geração, oriundos dos imigrantes do século 19, de décadas antes da proclamação da república.
Assim temos nos anos 1910 a Tiferet Zion, depois substituída pela Hatchia (nome original da Biblioteca Bialik) considerada desde o início como uma "federação sionista do Rio de Janeiro, com muita expressão junto ao governo e até a embaixadores de outros países.
Mas hoje, vamos iniciar a passagem a limpo da C.I.B. (escrita exatamente desta forma): Confederação Israelita Brasileira, tida por nossos historiadores como sendo um "pequeno grupo de pessoas", tendo "pouca expressão e representatividade." Mas isso é o discurso ao que já me referi escrito pelos historiadores da esquerda judaica. A CONIB não é uma descendente direta da C.I.B. e não a substituiu. Trata-se de entidades completamente diferentes.
A C.I.B. foi fundada num sábado a noite, 25 de novembro de 1933 após meses de negociações e de uma gestão provisória. Estiveram presentes 450 pessoas tendo a sua frente nomes como o capitão Levy Cardoso (de pé na foto) e Horácio Lafer (sentado), no momento, deputado constituinte. Segundo a notícia, praticamente todas as entidades israelitas do Rio de Janeiro se filiaram. No arcabouço nacional, filiaram-se: Federação Israelita do Rio Grande do Sul; Centros Israelitas de Pelotas, Santa Maria e Cruz Alta; União Israelita de Belo Horizonte; Federação Israelita Paulista (precursora indireta da FISESP).
Iriam se filiar em breve: Centro Israelita do Paraná; Comitês Israelitas de Belém e de Manaus; Beneficência Israelita de São Luiz do Maranhão; Associação Israelita da Paraíba; Sociedade Israelita de São Salvador (Bahia); Centro Israelita de Aracajú; Biblioteca Israelita de Maceió; União Israelita de Campos dos Goytacases; Sociedade Israelita de Niterói; Círculo Israelita de Petrópolis e outras não nominadas, formando um grupo de entidades e de locais com organização judaica surpreendente e bastante esquecidas em nossa história.
Mais a frente vamos entender o que essa C.I.B. enfrentou, por que ela encerrou suas atividades e quando foi isso. Mas um dos motivos de sua criação era a preocupação com o crescendo do antissemitismo na Europa e principalmente na Alemanha junto com a luta para a realização prática do sionismo! Quem dera... Não foi nada disso e talvez seja essa a razão de sua derrocada posterior.
A C.I.B. era uma entidade nacionalista. Conforme seu próprio discurso: "um desejo evidente de melhorar e aperfeiçoar as condições sociais, econômicas e intelectuais dos judeus no Brasil... e pela necessidade da intensificação do intercâmbio judeu brasileiro e da integração dos judeus no ambiente cultural e cívico do Brasil."
Essa é uma demonstração histórica de como os judeus estavam subdivididos em várias vertentes dignas, revolucionárias e excludentes entre elas de tratar o "problema judaico". Pela Palestina? Pelo comunismo? Por Birobijan? Pela democracia americana? Por ser um brasileiro como qualquer outro? Por manter a religião de forma ortodoxa no Brasil? Se formos pensar um pouco, veremos que as questões de 1933 ainda são basicamente as mesmas, inclusive dentro de Israel.
José Roitberg - jornalista e historiador
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