Na foto vemos 18 Polacas (prostitutas judias) visitando o túmulo de “Lili das Joias”
Cada comunidade em cada país, ou cidade, ou aldeia, em cada momento histórico de liberdade, de restrições ou de perseguições, tinha seus costumes, sempre variando um pouco em torno do mesmo tema.
Um dos hábitos que havia no Rio de Janeiro das últimas décadas do século19 até lá pelos anos quarenta do século 20, era visitar os cemitérios (um até 1916, dois até 1920 e três em seguida, até 1956 quando foi inaugurado o Cemitério Israelita do Cajú) na manhã de erev Rosh Hashaná, ou seja: seria na manhã de hoje. Como a visitação era maciça, aproveitava-se para inaugurar as matzeivot (a parte construída, artística do túmulo - matzeiva significa monumento) de todos os falecimentos do ano anterior (na verdade são bem poucos a cada ano). Uma ação comunitária conjunta de fato, numa comunidade que beirava apenas umas 2.000 pessoas (de todas as idades), quando a foto abaixo foi tirada.
Ela é de Rosh Hashaná 5676, setembro de 1915, há 98 anos atrás. Nela, vemos 18 polacas em torno do túmulo de "Lili das jóias", cujo nome era Rosa Schwartz za'l. Rosa foi uma polaca, prostituta dos primeiros anos do século 20. De alguma forma que não ficou registrada ela se livrou de seu caften (cafetão) e passou a seu uma "klienteltshnik" (prestamista) vendendo joias, que comprava ou que recebia em consignação de negociantes.
Conta a crônica policial de 8 de outubro de 1914, ela foi morta no dia 7, que Rosa fez relativa fortuna e se dedicava a tentar liberar (talvez comprando) as moças judias mais novas envolvidas na prostituição. Era abertamente uma inimiga dos caftens. No dia 7 "Lili" foi encontrada morta, degolada à navalha, em sua própria cama, na pensão onde morava à rua das Marrecas 28. O mostruário de joias tinha sumido. Este é apenas mais um dos crimes de assassinatos de polacas que jamais foi resolvido. O assassino deixou a navalha no local. A polícia arrolou amantes, namorados, clientes devedores, caftens e até estrangeiros e nunca encontrou o autor.
A contradição que temos na foto é simples: está na história que as pessoas preferem conhecer e acreditar, que as polacas eram mantidas em regime semi-escravo, que os caftens as ameaçavam de morte, que não podiam sair dos prostíbulos. É isso que você provavelmente sabe. Mas essa é uma das várias provas documentais e fotográficas de que elas tinham toda a liberdade de circular, praticavam o judaísmo em sua própria sinagoga, com seus próprios rabinos assalariados, frequentavam a mídia constantemente, abriram seu próprio cemitério em 1916 e também continuaram a usar o S. Fco. Xavier, mesmo depois, com sepultamentos pela halachá ortodoxa (como podemos depreender em vários, mas não todos, de seus túmulos).
A liberdade era tanta que podiam posar para os foto-jornalistas no túmulo da Rosa Schwartz za'l, inimiga declarada dos caftens, amiga e benfeitora das que continuavam a ser polacas, sem temer qualquer tipo de retaliação de seus próprios caftens verdadeiros ou apenas no imaginário racista coletivo.
Associação Religiosa Israelita da legenda não é ARI, e sim ABFRI - Associação Beneficente Funerária Israelita, fundada em 1906, mas atuante já alguns anos antes.
© 2013 – José Roitberg – jornalista e historiador
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