terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O homicídio do rapaz negro e gay

O homicídio do rapaz negro e gay em SP parece estar sendo comprado. Surgiu um diário do garoto de onde a mãe, negra e pobre, afirma que ele queria se matar. Não há como entrar nesta seara do crime hediondo de uma forma moderna.

Nem o Walcyr, o Carrasco, usou como personagem: gay arranca todos os seus dentes, se espanca e depois se mata.  Vou de Nelson, o Rodrigues ao qual mando um beijo além túmulo e sei que ele vai cuspir de volta...

"A VIDA COMO ELA NÃO É
por José Roitberg.

Rapaz pobre. Achava que era bonito. Imaginava que o amariam. Coisa de juventude, alçar voos e imaginar que há futuro. A realidade é dura. Falta comida, falta dinheiro. Aquela roupa não dá. Aquele tênis não dá. Usa é a calça velha, o calçado puído. A cueca, pelo menos, lavada pela mãe.

E levado pela onda, levado pelo consumo o rapaz pobre fica deprimido. Sem as coisas que o dinheiro compra, nem o amor chega de graça. E quando chega é desgraçado. Vem de supetão. Vai de repente. Fica o garoto pobre. Fica a depressão.

As letras sempre foram gratuitas e seu terrível diário mostra quem é. Belo dia acorda após jornada de labuta e percebe que de bela nem a vida nem ele. Tomado de uma verdade devastadora olha-se no espelho e desfere o primeiro soco. Dói, mas não pia. O lábio sangra, mas se cala. Mais um soco. Outro soco. Dentes começam a cair. É tão fácil. Como ninguém fez isso antes. 'Sou feio.' E porrada. 'Sou feio.' E porrada. Vão-se os dentes fica a mente, fica o corpo magro que era feio e agora é desfigurado. O corpo precisa ficar igual ao rosto. E soco, soco, canelada na porta, joelhada na mesa.

Ninguém ouve. E se houve alguém, ninguém ligou. São os ruídos da vida em comunidade. Soco, canelada, chute. Não há mais rosto, não há mais corpo. Só há vida, mas nada vale. Então correr. Passa veloz pela mãe que vê a novela de Carrasco. Quase derruba a porta, mas não importa.

Ganha a rua e corre, corre, corre. Ninguém liga. Ninguém olha. Mais um garoto negro machucado correndo. Deve ser drogado. Deve ter apanhado do traficante. No fim ninguém dá a mínima como ninguém deu no começo. E corre, corre, corre. Chega a um viaduto. É noite. Luzes brancas, luzes vermelhas, pele negra, sangue vermelho, dor. 'Chega!'

E flutua. Vê os carros passando por baixo. Visão poética. Ninguém jamais viu. Só ele viu. Pensa na mãe. Pensa no amor. Pensa no gozo. Um estalo. Não entende o que aconteceu. Não pensa mais em nada."

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