O Rio Judeu Que o Povo Esqueceu
Como uma associação de jovens judeus que teve grande representatividade entre 1939 e 1955, com 2.000 sócios, some sem deixar rastros? Quem a frequentava com 20 anos de idade em 1955, hoje tem 78, portanto, há cabirenses quietos por aí. Alguns, certamente ativistas de outras instituições. Esperamos que este artigo os tire da zona de conforto e os permita trazer novas memórias e quem sabe, fotos, carteirinhas, estórias legais.
Definições equivocadas em livros anteriores
Quase tudo que abordamos nesta coluna parte dos erros publicados anteriormente pelos historiadores e tornados verdade através de sua replicação histórica em teses de mestrado e doutorado. Com o Clube dos Cabiras, não é diferente. O jornalista Henrique Weltmam, definiu na página 51 de seu livro "A História dos Judeus no Rio de Janeiro", que o Cabiras "surgiu em 1929 a partir de uma dissidência do Clube Juventude Israelita (Iuguend Bund)", criado em 1919 e terminado em 1929.
Esta é a história que recebemos e contamos até hoje: os jovens de esquerda teriam saído do ambiente sionista e foram cuidar de seus rumos e interesses. O ano de 1929 é até emblemático, mas estranho para isso. Além de termos crise econômica, é o ano dos grandes ataques contra judeus na Palestina, que aglutinaram a Comunidade.
Em seu livro "Paisagem Estrangeira", a professora e historiadora Fania Frydman situa o Cabiras na Rua Álvaro Alvim 21 (edifício Regina, existente até hoje), mas o clube, de fato ficava defronte, no número 24, onde há um prédio mais moderno, conforme consta em notas publicadas nos jornais chamando para eventos entre 1948 e 1955. Fania nos conta que em 1941 uma cisão do Cabiras formou o Grêmio Cadima (Avante) que se reunia no Hotel Elite. Quanto ao Cabiras, dá informação diferente da de Weltman. A origem teria sido um cisão de esquerda do Iidishe Iugend Haim (Grêmio Juventude Israelita). Mas este funcionou apenas entre 1928 e 1934 na rua Hadock Lobo 142. E nada mais havia sobre os Cabiras. Ambos clubes "Iugend" eram iidishistas e segundo sabemos, praticamente todos os iidishistas tinham uma alinhamento de esquerda.
Viu outras matérias e veio nos procurar
Eis que surge, o sr. David German, com seus 95 anos de idade e nos procura, por ter lido os primeiros artigos desta coluna. E David afirma: "Eu fundei o Cabiras, posso de contar tudo!" Nós o recebemos, juntamente com dra. Esther Libergot, química, ativista do clube no pós-guerra, e gravamos em vídeo o depoimento dos dois.
David se formou em odontologia e foi dentista por 60 anos. Inicialmente ele frequentava as atividades para jovens judeus na Bené Herzl, fundada em 1921, a instalada em 1929 na Rua Conselheiro Josino 14, há 50 metros de onde anos depois, em 1932 se inauguraria o Grande Templo Israelita. O prédio foi planejado pelos judeus sefaraditas para ser um Centro Judaico, com pequena sinagoga, salões, salas para reuniões e outras atividades.
Muitos "clubes" e instituições judaicas tiveram como endereço o número 14, inclusive a Federação das Sociedades Israelitas do Rio de Janeiro (atual FIERJ), de 1947.
David, que passou pela história da Comunidade Judaica dos anos 1930 até hoje, concorda que nossos historiadores "agiram politicamente e sectariamente" ao escrever suas versões do que deveria ser uma só história.
1939 e não 1929…
O Cabiras foi fundado em 30 de janeiro de 1939, dez anos depois da data aceita até hoje. Caso contrário, nosso querido David teria sido diretor aos 12 anos de idade, e teria hoje 115 anos...
O nome "Cabiras" é um dos mistérios comunitários. Seria uma corruptela de "guiborim (heróis em hebraico)", como pretendem uns? Como ficava na Bené Herzl teria algo a ver com uma região do norte da Turquia que leva este nome?
David German é categórico ao afirmar que ele e mais quatro amigos se juntaram e resolveram criar um clube judaico "porque naquela época, parece que não havia nenhum."
Havia a BIBSA - Biblioteca Sholem Aleichem, na Praça Onze, fundada sionista em 1915, mas já completamente comunista em 1939. E não era um clube para jovens. Os outros clubes, como vimos deixaram de existir anos antes.
Ao longo do século 19 e nos primeiros 60 anos do 20, o Rio de Janeiro teve centenas de clubes por afinidade em todo seu espectro social.
Os nomes sugeridos foram: Clube da Juventude Judaica Brasileira, Clube dos Judeus do Brasil, que David se lembre, além de outros. A escolha do nome ficou para a reunião seguinte, no voto. "Cheguei em casa e comecei a folhear a 'História da Literatura Universal', vi lá uma estória dos gregos com um asterisco. Fui lá e vi 'cabiras' em hebraico 'cabirim', poderosos, fortes etc. Cabiras... Bom, isso soa bem. Levei na reunião seguinte. Dei lá o nome do Clube dos Cabiras. Ah.. Pegou! É esse!" O nome foi mantido e foi um sucesso até o desaparecimento do clube entre 1955 e 1956.
Na verdade, os Cabiras gregos eram considerados como "o princípio de todas as coisas, o símbolo da geração", teriam dado origem aos deuses.
Pelo que David se recorda, além dele, fundaram o clube: David Lerner, Hoinef (não se recorda o primeiro nome), Marconi Nudelman e duas moças das quais também não lembra o nome. Todos oriundos do Colédio Sholem Aleichem. David German era o mais velho entre eles e sempre gostou das atividades sociais e teatro. Foi produtor e diretor do grupo de teatro do clube. Foram várias peças e a que o marcou foi "Jankel Boile" em 5 atos falados em íidiche só pelos jovens amadores do Cabiras: "falavam, mas não sabiam o que estavam falando e cantando. Havia dança de camponeses, uma peça mesmo. Alguns tinham uma ideia do que era. Mas a plateia, formada pelos pais, entendia o que era dito," arremata David. Precisou de três meses de ensaios. As apresentações aconteciam em teatros alugados e não no salão da Bené Herzl. Normalmente as peças tinham apenas duas apresentações devido ao custo do aluguel dos teatros. Apenas duas peças foram produzidas em íidiche, as outras eram em português. Boa parte delas era teatro infantil.
Elenco da peça “Não Consultes Médico”, encenada pelo grupo de teatro do Cabiras. O elenco está sentado e da direita para a esquerda temos a diretoria dos anos iniciais: David German (com charuto), Max Goldkorn, Isaac Jaimovich, Abraão, Jaime Tiomno, Jaques Gutemberg e Marconi Nudelman.
Como David Guerman era da direção do Cabiras e frequentava ativamente aquela região, ele pôde nos dar um testemunho precioso sobre a interação entre sefaraditas e ashkenazitas, separados por 50 metros, veja: "A parte da juventude, social, que estava no Bené Herzl não tinha nada a ver com as festividades judaicas. Ali era só dos sefaraditas, onde eles rezavam etc. O Clube dos Cabiras alugava a sede do Bené Herzl para as atividades dançantes, palestras, conferências e tudo mais em dias certos do mês."
Planta do segundo piso da Rua Conselheiro Josino 14, Bené Herzl
A planta original deste prédio ainda existe sabemos que a sinagoga de uso diário ficava à esquerda de quem subia as escadas com apenas 15 metros quadrados. Oposta a ela, do outro lado da escada um espaço semelhante designado como "buffet". A pequena sinagoga se justifica, pois as outras sinagogas sefaraditas estavam em plena atividade em várias partes da cidade. A Shel Guemilut, naquele momento histórico ficava na rua Francisco Muratori 33 (de 1935 a 1949 - o prédio ainda existe) a cerca de 15 minutos de caminhada da Bené Herzl.
O salão de festas possuía 155 metros quadrados com quatro colunas centrais quatro pequenas janelas laterais e três grandes janelas frontais com 2 metros de largura para uma. É neste salão que foram dadas dezenas e dezenas de palestras e conferências. É neste espaço que aconteceram vários bailes por ano até 1947 e onde vários casais judeus se conheceram e se beijaram pela primeira vez. Nas festas judaicas, segundo David, se colocava cadeiras no salão e ele se transformava todo em sinagoga. A função de um clube de jovens judeus de oferecer um local onde casais judeus pudessem se formar, foi plenamente satisfeita pelo Cabiras.
Rua Conselheiro Josino 14, Bené Herzl alguns dias antes de sua inauguração
Os jovens judeus foram se associando. O Cabiras chegou a ter 2.000 sócios jovens judeus que iam lá para dançar e para festividades. As palestras literárias eram de alto nível, com jornalistas, escritores, senadores, palestrantes de várias partes do mundo, "mas ia pouca gente." As festas mais importantes eram de reveillon e carnaval, sempre lotadas. Paralelamente havia o Clube das Damas Israelitas (sefaradi, criado em 1929 no número 14, também) que fazia o mesmo tipo de festas e muitas delas, beneficentes. "Eu acredito que naquela época o Cabiras era o único clube onde só tinha jovens judeus", disse David. Era comum que os jovens participassem dos bailes em vários clubes.
Inicialmente as festas eram todas no número 14, mas rapidamente os bailes principais de Carnaval precisaram de espaços maiores e o enorme salão do Botafogo, era alugado anualmente. Nos anos 1950 até mesmo o grandioso espaço do High Life seria usado para o carnaval dos Cabiras. O clube também promovia concursos de dança, e David venceu um deles com sua partner (parceira), Lygia Hazan, mãe de nosso Ronaldo Gomlevky e colunista da Menorah.
Cultura, dança, diversão e alienação
O clube foi criado nas vésperas da Segunda Guerra Mundial e era de se esperar que uma associação que reunisse este número enorme de judeus para a comunidade dos anos 1940, talvez quase todos os jovens que havia, tivesse um papel destacado durante a guerra, que suas palestras, pelo menos levassem a entender o que acontecia com os judeus, mas não foi o que aconteceu. Naquele momento a Comunidade judaica tinha tamanho semelhante ao atual. Mesmo nos dias de hoje, vemos as instituições culturais judaicas com suas fortes agendas de palestras dissociadas das ameaças aos judeus e ao Estado de Israel. São coisas que não se discutem, preferindo seus dirigentes, as amenidades da literatura, da poesia, da sociologia, da música e do teatro, coisa que os cabirenses fizeram até após a guerra.
Não há nos jornais notícias sobre o clube. Mas há dezenas de publicações de notas de divulgação de suas principais conferências, assim sabemos que enquanto os judeus eram trucidados na Europa Central, nosso jovens judeus recebiam muita literatura, música e teatro, e pouca política e situação mundial. Havia times de vôlei, basquete, ping-pong e outros esportes disputando campeonatos com outras quatro instituições judaicas.
Como historiador não me cabe julgar. Como jornalista me cabe. E nunca se sabe o que será encontrado pela frente. Então julgue você. Em 20 de dezembro de 1942, o Diário de Notícias em suas página 16, traz uma nota: "A festa esportiva do Clube dos Cabiras - O clube dos Cabiras, ora sob a ação da nova diretoria, vem, cada vez mais, ampliando suas atividades nos setores esportivo e social. Concretizando o programa traçado para mês corrente a agremiação da rua Conselheiro Josino promoverá, na manhã de hoje, em um pitoresco local da Gávea, um churrasco-dançante, sendo que antes serão realizados jogos de basquetebol, voleibol, além de provas de natação em uma praia próxima ao local da original festa. Um ônibus especialmente fretado, partirá do Hotel Leblon, às 8 horas da manhã, conduzindo a caravana de cabirenses ao recanto gaveano, escolhido para o churrasco." David acabou de ler esta nota. Provavelmente lembrou-se desta atividade e certamente sabe onde eu vou chegar.
20 de dezembro de 1942: muita diversão durante o Holocausto
Em dezembro de 1942, já haviam sido trucidados à pauladas, golpes de barras de ferro, tiros, fogo, mortos pela fome, pelo frio e pelas doenças sem possibilidades de obter remédios, mais de 2 milhões de judeus na Europa, entre eles, muitos parentes dos judeus do Rio de Janeiro. Por anos os jornais vinham publicando o massacre de judeus e o extermínio de vilas inteiras. Poderiam ter pago uma nota de repúdio e apoio, mas nenhuma foi publicada de 1939 a 1945. Um churrasco-dançante naquele momento histórico é a demonstração de que a alienação dos problemas dos judeus que vemos hoje, havia ontem. Os filhos e netos seguem os pais.
Perguntei ao querido David o que os judeus faziam aqui durante do Holocausto ele inicialmente afirmou que não sabiam o que estava acontecendo. Confrontei-o com a informação de que tudo era publicado nos jornais, em português, quase que diariamente. E a comunidade lia? O discurso de David, muda: "Lamentava, provavelmente. O que você acha que faziam? Lamentavam entristecidamente o que faziam com os judeus. O que você acha que podiam fazer? Quando havia uma notícia mais contundente se lia no jornal e se discutia no clube e torcendo vivamente para que os soviéticos chegassem à Polônia e resolvessem a questão. Eu sentia muito e ficava revoltado com esta coisa. Mas quem é que não fica?"
As palestras sobre a temática da guerra que conhecemos hoje, são: "A questão racial no pós guerra" em agosto de 1943 pelo prof Artur Ramos, "A guerra de todas as raças"; em setembro de 1943 pelo ser Mario Martins; e "A ciência e o antissemitismo", em novembro de 1943 pelo emblemático Isaac Izecksohn. Em 1944 o Cabiras se incorpora à Liga de Defesa Nacional junto com outras dezenas de agremiações de jovens do Rio de Janeiro.
Clube da esquerda comunista, ou não?
O Cabiras tinha tendência esquerdista e teve problemas durante o Governo Vargas, exatamente quando foi fundado e cresceu. E David começou a nos explicar como isso funcionava. "Eu nunca tive cor política. Ah, são sionistas? Eu faço isso para eles. Ah, são comunistas, eu faço isso para eles. Para mim tanto faz um ou outro. Eu quero fazer o que eu gosto de fazer (teatro). Os sionistas são judeus, os esquerdistas são judeus, eu trabalho pros dois."
"O Clube dos Cabiras foi taxado como clube comunista, clube da esquerda. Alguns diretores é que levavam a coisa politicamente. Mas do ponto de vista social, associativo, ninguém sabia de nada. Tem baile? Tem. Tem conferência? Tem. Tem isso, tem aquilo. Não tinha uma mácula comunista em todas as atividades. Nunca!", afirmou David German e continua, "a cor que alguns comunistas da diretoria davam ao clube, não transparecia. Eu não vi nada. Eu não senti nada. Conheci até muitos sionistas. Todo baile que o clube dava, ia um tal de Zimmerman, judeu, da polícia, para fiscalizar. Para polícia nós éramos um clube comunista. O Zimmerman era designado para ver o que tinha de comunista nos bailes, mas não via nada. Eu conversava muito com ele, já faleceu, e era parente de meu cunhado. Eu passava perto dele e brincava: já viu alguma coisa ruim aí?"
Esther Libergot participou de nossa conversa e disse: "Havia muitos esquerdistas. Havia uma turma sionista que se preparava para ir para Israel e outra turma que ia ficar aqui. Nunca vi nenhuma ação comunista. Mas havia um sentimento." Ela conheceu o clube já depois da guerra na fase da rua Álvaro Alvim, foi na época em que ela entrou na universidade e havia um forte movimento estudantil stalinista que só acabou após o vigésimo congresso do Partido Comunista, quando ficou esclarecido para os jovens o que tinha havido de fato na União Soviética desde 1917, "toda aquela perseguição, toda a história do stalinismo, e aí a coisa mudou. O congresso comunista realmente impactou e houve um êxodo. As pessoas abandonam o comunismo. Esse pessoal que abandonou a ideologia decidiu formar uma comunidade melhor e partiram para criar a escola, o Eliezer Steimbarg. Vendo com uma perspectiva história os grandes autores, artistas e políticos que foram falar no Cabiras eram esquerdistas. Não me recordo de um sionista tendo ido falar lá. Era o outro lado do Colônia. Que simultaneamente atuava com muita intensidade, mas eu não sei, porque nunca fui. Mas todos frequentavam as festas do Cabiras."
"A juventude judaica era divida entre sionistas e progressistas. O Cabiras era o principal centro progressista. Havia reuniões conjuntas em que os grupos degladiavam-se. No Cabiras havia um grupo que levantava os braços a faziam a saudação à Stalin - Viva Stalin - e coisa e tal.", afirmou David. "99% dos sócios estavam pouco se lixando se os diretores eram esquerdistas ou não. Mas quem carregava o clube nas costas eram os comunistas." O clube admitia não-judeus como sócios, mas eram muito poucos, geralmente namorados e namoradas de sócios.
Para comemorar seus nove anos, o Cabiras se mudou e alugou o salão da sobreloja da Rua Álvaro Alvim, 24, onde viveria o período 1948-1955. Essa é a estória contada abertamente até hoje. Mas entrevistamos também o sr Isack Hazan, filho de Salomão Hazan z’l, fundador do Bené Herzl e seu presidente por muitos anos. Foi com Salomão que o Cabiras fez seu contrato de utilização da sede e foi Salomão Hazan que, em 1947, colocou o Cabiras para fora da Conselheiro Josino 14, devido às atividades comunistas de seus diretores que atraiam a atenção das autoridades de governo e da polícia.
Na Álvaro Alvim 24 o aluguel era mensal e o clube, por sua vez, sublocava seu salão para festas de outras associações e escolas. Antes, foi o salão de outra tradicional agremiação carioca, o "Clube dos 40." Uns dizem que embaixo havia um cinema, mas não conseguimos localizar cinema ou teatro algum com a aquele endereço.
Por que o Cabiras acabou?
Dissemos acima que o Cabiras foi um clube de jovens. E este é um dos motivos para ele ter acabado. Os jovens foram crescendo se inserindo em suas profissões, foram casando, tendo filhos e passaram a ser homens e mulheres: "deixaram de ser jovens e sócios do Cabiras."
Os diretores iniciais não tinham mais tempo para se dedicar ao clube e as novas lideranças do pós-guerra eram especificamente comunistas. As novas lideranças eram compostas por jovens inexperientes e compromisso com a esquerda é evidente pelo fato de boa parte das atividades do clube, a partir de 1946, passarem a ser publicadas no tabloide de esquerda 'Momento Feminino' e no jornal 'Tribuna Popular' que era praticamente o órgão de divulgação do Partido Comunista no Brasil.
Com a sede alugada na Rua Álvaro Alvim 24, o Cabiras montou uma grande biblioteca, inaugurada no dia 7 de maio de 1949, um sábado a noite e promoveu eventos para a doação de livros. No dia seguinte, dia 8 de maio, o Cabiras realizou uma seção solene, seguida de baile e muito chope para comemorar "O Dia da Vitória" e um ano da "Proclamação do Estado de Israel."
No pós-guerra, talvez uma das mais interessantes palestras tenha sido "O que eu vi no Oriente Médio", proferida pelo sr Edmar Morel em outubro de 1948. Em dezembro do mesmo ano, o Cabiras recebeu o senador Hamilton Nogueira para "O Brasil e o reconhecimento de Israel." Nota-se em sua agenda, exatamente o que David citou: a diretoria tinha o alinhamento político dela, mas realizaram vários eventos que poderiam ser considerados como sionistas, ou pelo menos de uma esquerda sionista, o que de fato existia naquele momento histórico.
Sabemos por uma troca de acusações entre sócio e presidente, publicada no Diário de Notícias em 24 de outubro de 1949, que o presidente do Cabiras naquele momento era o dr. Nissin Castiel. Outro nome que sobrou nas publicações de notas é o de Isaac Faerchtein, secretário em 1942. Também em 1942, enceram a peça e Machado de Assis, "Não Consulte Médico", com Liuba Vatinyck, Florinha Libman, Arlete Saraiva e Lea Monteiro de Barros, no teatro Ginástico.
Da peça Grine Felder (Campos Verdes) restaram duas fotos. Nesta, temos David sentado de óculos, Liuba Koifman e Simão Schweid.
Na segunda, temos, da direita para a esquerda: Dina Moscovitch, Schlesinger (ensaiador), Bela Josef, Simão Schwied (sentado), Liuba Koifman, David German e Jaime Libergot (de pé). Atrás deles, as duas moças são as irmãs Golbenberg, Ruth e Frima, seguidas por Abrahão (com boné e barba) e um rapaz cujo nome se perdeu.
Numa nota publicada no Tirbuna Polular (22/jan/1945) podemos conhecer uma destas diretorias possivelmente "comunistas":
Presidente, dr Saul Chitmann; vice-pres, Francisco Schwartz; 1o sec, Jacob Crohmal; 2o sec, Joseph Alegua; 1o tes, dr Isaac Sterental; 2o tes, dr Jaime Grossman; dir social, Saul Steinschnaider; dir cultural, Bella Karacuchansky e dir esportivo, José Segal.
Como de tantos outros judeus, o sobrenome German também é um sobrenome que não existia. O pai de David, Haim Leib, veio da Rússia em 1914, e na imigração, com o sotaque deu o sobrenome Herman e ficou a cargo do oficial brasileiro declara-lo German e ele aceitar, também sem entender direito ou conhecer nosso alfabeto não cirílico. O pai da Esther Libergot foi soldado do exército russo por três anos na Primeira Guerra Mundial.
Mais uma vez conseguimos efetuar o resgate de outra entidade judaica importante em nossa história, mas que havia se transformado em “duas linhas” nos livros sobre a história dos judeus no Rio de Janeiro e esperamos que outras testemunhas de época nos procurem.
© José Roitberg - jornalista e pesquisador - Editora Menorah Ltda - 2014