Não é um projeto centenário. Tem apenas 29 anos mas podia ter modificado a Zona Sul e a relação do carioca com o mar. A matéria publicada pelo jornal O Globo em 20 de abril de 1986 iniciava assim: "Pode parecer uma ideia de algum cérebro delirante, mas o projeto existe e está em estudos".
Muitas pessoas sabem que houve projetos para aterrar a Lagoa Rodrigo de Freitas e até mesmo a Baia da Guanabara inteira e quase todos ignoram tudo que foi aterrado antes. Nossa cidade maravilhosa é aterradora (com o perdão desta formação gramatical curiosa). Só algumas: Glória, Flamengo, Botafogo, Calabouço, Beira Mar, Santos Dumond, Cais do Porto e Gamboa, Caju, Ramos, Ilha do Governador, Praia Vermelha, Urca, entorno do Lagoa, Praia de Copacabana, Lagoa do Boqueirão na Lapa, os mais diversos rios, montanhas derrubadas e removidas etc...
Pela imagem oficial do projeto percebe-se que os 700 metros da Praia do Arpoador seriam extintos e em seu lugar, seriam construídos nada menos que 10 km de praias. As Ilhas Cagarras passariam a ser montanhas urbanas emoldurando a área cultural do projeto.
O pretexto era "facilitar a navegação na entrada da baía" (se bem que ali não é entrada de nada...), mas a realidade era um projeto imobiliário gigante com conjuntos comerciais, bairros residenciais, parques, hotéis, cassinos e marinas. O projeto da Península Cidade-Jardim, lembrava o "Lago Ocean", do arquiteto Sérgio Bernardes, que deveria se localizar em frente ao Jardim de Allah, com uma marina de três andares subterrâneos, lojas, teatros, cinemas e estacionamentos. Obra vetada pela Feema.
Obviamente interessada, estava a Companhia Brasileira de Dragagem com um orçamento de 450 milhões de dólares para criar o grande banco de areia. O custo total do projeto chegaria praticamente a 1 bilhão de dólares (valor de 1986), mas os incorporadores afirmavam que o custeio viria da comercialização de 8 milhões de metros quadrados da Península, 66% da área total de 12 milhões. O desenho não faz jus à área real, duas vezes maior que a área construída de Leme, Copacabana, Arpoador, Ipanema, Leblon e Lagoa juntos!
Teríamos uma Zona Sul três vezes maior do que é, e o Rei Netuno não iria protestar por perder um pedacinho insignificante do Atlântico.
Em minha modesta opinião, os dois projetos, Península e Lago Ocean, deveriam ter sido levado adiante e teríamos uma cidade bastante diferente da atual. Só a questão dos 10 km de praias oceânicas urbanas já seria um atrativo turístico inimaginável. Quem conhece outros locais de litoral como Miami e Fort Lauderdale, sabe que se avança sobre o mar com penínsulas e condomínios, sem ter uma Feema ou ambientalistas criticando a "poluição visual das praias" como no caso de ambos projetos embargados.
por José Roitberg - jornalista e pesquisador
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