domingo, 29 de junho de 2014

DOIS TIROS MATARAM 60 MILHÕES DE PESSOAS

Num dia quente de junho, dois tiros foram disparados no centro da cidade de Sarajevo. Um homem e uma mulher caíram mortalmente feridos em sua carruagem. Em poucas semanas uma guerra engolfou praticamente o mundo inteiro e redefiniu o mapa e a ordem social na Europa, deixando uma marca indelével na história da humanidade.

Os impérios que foram sacudidos e derrubados na Primeira Guerra Mundial, estão para trás, apenas nos livros. Mas as forças que tornaram o conflito possível, forças como nacionalismo, disputas econômicas, alianças complexas entre países, e receio de uma potencial agressão russa, estão vivas hoje como estavam há 100 anos atrás. E as implicações destas tendências para o futuro continuam tão profundas quanto antes. A carta islâmica daquela época era o decadente Império Turco-Otomano, que controlava Jerusalém já por 400 anos. A carta islâmica atual é um EIIL e ISIS, considerados radicais demais pela Al-Qaeda, tanto que ao mesmo tempo em que aglutinam desertores da empreitada criada por Bin Laden, são atacados pelas forças formais do grupo.

No dia 28 de junho de 2014, o Arquiduque Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro e sua esposa, a Duquesa de Hohemberg, foram assassinados durante um trajeto em Sarajevo, por Gavrilo Princip, um dos membros de um grupo de seis terroristas assassinos suicidas enviados para a missão. Foram lançadas bombas que falharam e Princip resolveu atirar nos herdeiros do trono. Eram cinco sérvios e um muçulmano da Bósnia, cujos territórios estavam ocupados pelos austro-húngaros. A repressão foi brutal e países começaram a se alinhar, enviar tropas e lutar uns contra os outros a partir de tratados assinados anteriormente e posteriormente ao início da guerra.

A existência da Primeira Guerra Mundial levou a Alemanha a enviar para a Rússia, Kerensky, Lenin e outros revolucionários maximalistas (posteriormente comunistas) que se abrigavam exilados em seu território, com a finalidade de realizar uma revolução e remover as tropas russas da Frente Oriental, permitindo as potências centrais se concentrarem na guerra contra a Europa Ocidental. Isso ocorreu em outubro de 1917 e deu origem ao comunismo de estado com a União Soviética.

A união entre soviéticos e alemães imperiais, depois alemães nazistas só é rompida quando Hitler decide invadira a União Soviética em 22 de junho de 1941, data curiosamente próxima ao 28 de junho que marca o início da Primeira Guerra Mundial.

Aqueles dois tiros, na verdade, mataram pelo lado da Entente (consideramos os aliados: França, Inglaterra, Bélgica, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Itália, Rússia, Portugal, Japão, Brasil e outros), entre 4,8 e 6,3 milhões de soldados, 777 mil civis (ações militares e crimes de guerra), 2,5 milhões de civis de fome e doenças. Além disso, em torno de 12 milhões de soldados foram feridos. Não se sabe quantos vieram a falecer dos ferimentos nos anos seguintes.

Pelo lado das Potência Centrais (Áustria, Hungria, Alemanha, Turquia e outros), foram mortos entre 3,4 e 4,3 milhões de soldados, 1,6 milhões de civis em ações militares e crimes de guerra, cerca de 2,2 milhões de civis de fome e doenças, além de 8,5 milhões de soldados feridos. No bojo da Primeira Guerra Mundial, o Império Turco-Otomano decidiu praticar o genocídio da população cristã-ortodoxa armênia que habitava seu território, como estratégia pública e publicada, na época, de reação contra as tropas "cristãs" da Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia que atacavam o Império não só na Palestina como no litoral da Turquia. Turcos e alemães, inclusive soldados judeus de ambos participaram da defesa e derrota na Palestina, onde Jerusalém passou ao domínio "cristão", pelas tropas inglesas, incluindo unidades judaicas, pela primeira vez desde a última Cruzada derrotada na região.

O total do conflito é de 19.589.982 mortos e 23.674.204 feridos. Apesar de assustador, é menos da metade dos mais de 50 milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial.

A Primeira Guerra Mundial, foi amplamente documentada em mapas, fotos, artes, caricaturas e textos pela mídia brasileira diária e semanal.

Mas não foi só o combate e a doença provocada pelas trincheiras que matou durante esta guerra. Em 4 março de 1918 foram detectados os primeiros casos da Gripe Espanhola, uma Influenza A subtipo H1N1 em Fort Riley, no Kansas. No dia 11, os primeiros casos foram registrados no Queens, em Nova Iorque e em abril, as tropas francesas, britânicas e americanas, em portos franceses começaram a cair. Em maio a Grécia, Portugal e Espanha foram atingidas. Em junho os Países Baixos e a Suécia. Todos os exércitos no conflito contraíram a doença e os comboios marítimos as levaram para todo o mundo. 80% das mortes da marinha norte-americana foram por esta gripe e 98% das mortes na marinha brasileira, também.

Até hoje não se sabe o que a causou. Vários cientistas acreditam que as condições terríveis das trincheiras europeias propiciaram uma mutação do vírus da Influenza, para algo devastador com uma taxa de mortalidade de 8%. A primeira fase da Gripe terminou em agosto de 1918. Mas o inverno no hemisfério norte trouxe um novo avanço que terminou em janeiro de 1919. Uma quarta etapa da gripe começa em fevereiro e termina em maio de 1919. Metade da população do mundo contraiu o vírus e 40 milhões de pessoas morreram. Isto eleva o total de mortos devido à Primeira Guerra Mundial à cerca de 59,5 milhões de pessoas.

Na segunda onda, em setembro de 1918, retorna ao Brasil o navio Demerara que é apontado como o portador do vírus. A epidemia atinge nossa nação e deixa 300.000 mortos, entre eles o presidente da república, Rodrigues Alves.

Em nossos cemitérios, inclusive os judaicos, a linha "1919" é especificamente longa, mostrando que os judeus foram vítimas da pandemia de forma semelhantes aos outros grupos étnicos.

Talvez você não saiba de nada disso. Então, é provável que nunca tenha ouvido falar da participação dos judeus na Primeira Guerra Mundial, que considero "A Guerra dos Judeus", pois foi a única em que judeus mataram-se nacionalisticamente defendendo seus países de origem ou de naturalização (principalmente das Américas e Oceania). Há uma matéria bastante completa sobre esta questão em http://roitblog.blogspot.com.br/2013/12/1914-1918-guerra-dos-judeus.html

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