por José Roitberg´
A música "Gott erhalte Franz den Kaiser" (Deus Preserve (Salve) Franz, o Imperador), que se tornou o hino da Alemanha em 1922, foi composta por Joseph Haydn em 1797 para o aniversário de Francis II (1768-1835), imperador do Sacro Império Romano e Áustria. A letra surgiu apenas em 1841, pelas mãos do poeta Hoffmann von Fallersleben tornando a música velha de 44 anos antes, em "Das Lied der Deutschen" (A Canção dos Alemães).
Naquele momento histórico não existia a Alemanha como país. O nome correto era Confederação Germânica (Deutscher Bund 1815–1866), um agrupamento político de 35 estados monárquicos e quatro cidades republicanas livres. Foi a Revolução Industrial que acabou obrigando, economicamente, a remoção de barreiras comerciais entre estas 39 'nacionalidades' alemãs, através da criação da União Alfandegária Germânica (Zollverein), com a participação da maioria dos estados em 1834.
E foi sobre a Zollverein que von Fallersleben escreveu na canção. A letra elogiava o livre comércio de bens germânicos entre os estados e isso iria aproximar os alemães para a formação de um povo único, acreditava ele.
A primeira linha de "Das Lied der Deutschen" é: "Deutschland, Deutschland über alles, über alles in der Welt" cuja tradução aceita é 'Alemanha, Alemanha acima de tudo, acima de tudo no mundo'. O que von Fallersleben pretendia em 1840 é que o país, Alemanha, o conceito de uma nação que ainda não existia, estivesse acima dos problemas pessoais e individuais do povo alemão fragmentado em 39 pequenos estados. O “todos” para ele, não eram todas as outras nações do mundo, mas os povos germânicos.
Mas, sempre tem um mas: a palavra alemã "alles" é utilizada para dois significados: todos e tudo, que são diferentes nas línguas latinas, mas não em alemão. Aí, a tradução que ficou para o Hino da Alemanha (que não é o hino nazista) durante o período nazista hitleriano foi o brado simples "Alemanha acima de tudo", criado nove décadas antes, já com outro sentido, com o desejo da Alemanha de realmente dominar o mundo e se sobrepor a todas as nações.
Na gramática alemã o termo "über allen" significa "acima de todas as outras pessoas", e foi a escolha dos Aliados para finalidade de propaganda de guerra do durante a Segunda Guerra Mundial. Naquele momento, com o genocídio de judeus, ciganos, deficientes físicos e mentais, e prisioneiros civis e militares, além da escravização dos povos conquistados, fazia sentido.
Este problema gramatical do termo "alles" é semelhante ao "you" em inglês, podendo significar "você" ou "vocês". A aí, o tradutor pode quebrar a cara.
Quem tornou a canção o hino da Alemanha, foi o presidente Social Democrata, Friedrich Ebert, em 1922 e não, Adolf Hitler em 1933. Hitler manteve a primeira estrofe, removeu as outras, trocando-a por uma canção nazista, criando um novo hino baseado no velho.
No caso brasileiro, o lema "Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos", o slogan da campanha de Jair Bolsonaro agora em 2018, é citado, obviamente, como um discurso nazista. Mas também não é.
"Brasil acima de tudo" era o grito de guerra da Brigada Paraquedista do Exército Brasileiro e hoje, é uma saudação comum entre os militares, frequentemente dita, também como 'ponto' final ao se cantar a Canção do Exército.
O Coronel Cláudio Tavares Casali (Pqdt 46.363-88/1) escreveu um artigo completo sobre a origem do lema e é algo surpreendente.
Em 1968, o país vivia a turbulência das ações armadas terroristas contra o Estado e o povo brasileiro. No início de 1969 um grupo de oficiais paraquedistas "criou um grupo nacionalista e não xenófobo chamado Centelha Nativista". No Rio de Janeiro estavam os capitães Francimá de Luna Máximo (Pqdt 8.201-61/9) e José Aurélio Valporto de Sá (Pqdt 8.259-61/11).
O entendimento do grupo era muito similar ao de von Fallersleben em 1840: "... teriam que ressuscitar os valores que existiram em Guararapes de nacionalismo não xenófobo, de amor ao Brasil e de criar meios que reforçassem a identidade nacional e evitassem a fragmentação do povo pela ideologia e exploração de dissenso da sociedade dividindo o povo nos termos da velha luta de classes do marxismo."
Sempre lembrando que o marxismo levou ao Internacional Socialismo, onde o Império Soviético tinha a petulância de alegar que ocupar militarmente outros países como Ucrânia, Bielorrússia, Uzbequistão, Cazaquistão, Geórgia, Azerbaijão, Lituânia, Moldávia, Letônia, Quirguistão, Tajiquistão, Armênia, Turcomenistão, Estônia, Polônia e Hungria, era algo “democrático”.
A Centelha Nativista era um movimento de concepção cristã, e possuía uma oração a ser proferida em suas solenidades. Dos sete pedidos a Deus, escritos em 1969, dois se destacam em 2018 e com certeza não foram atendidos.
"Livrai-nos da traição, da indiferença, da omissão, da covardia dos vendilhões da Pátria, e dos que solapam os valores permanentes da nacionalidade.
Livrai-nos dos que, pela comunicação social ou pelos livros, se empenham em poluir a vocação cívica e patriótica de nosso povo,"
Parece bem atual 50 anos depois, né?
A data da Batalha de Guararapes foi instituída como “Dia do Exército Brasileiro” pelo Decreto sem Nr, de 24 de março de 1994
O capitão Valporto criou o lema "Brasil acima de tudo". Foi questionado, já na época, devido ao brado alemão “Deutschland über alles”, cuja origem já detalhamos acima.
Em 1975, o Coronel Acrísio Figueira (Pqdt 800–52/4), então Comandante do 26° Batalhão de Infantaria Paraquedista estava em visita oficial ao Fort Bragg, nos EUA, sede dos paraquedistas norte-americanos. Lá ele viu que os militares da guarnição se cumprimentavam com "Air Born" e respondiam "All the Way". Em tadução livre "Paraquedista", "Até o Fim". Voltando ao Brasil "o Coronel Acrísio, visando a aumentar os laços de camaradagem e espírito de corpo de sua unidade militar, encampou a antiga ideia de seu subcomandante, Tenente-Coronel Valporto, um dos fundadores da Centelha, e introduz a saudação “Brasil” – “Acima de tudo”.
Em 15 de Janeiro de 1985, o General Acrísio Figueira assume o Comando da Brigada de Infantaria Paraquedista e passa a adotar, em definitivo, o lema e o brado “BRASIL, ACIMA DE TUDO”.
Pessoalmente eu acredito que tal e qual outras palavras, designações e lemas, que hoje fogem ao seu domínio original, fogem ao seu significado original, como "gay" (alegre), "fascista" (regime político adotado na Itália, Hungria, Portugal e Espanha), a própria suástica indiana, símbolo do deus Ganisha para boas jornadas físicas e espirituais (e por isto roubada pelos nazistas para a bandeira deles), "bundão" (que deveria ser apenas um traseiro grande) e tantas outras, o lema "Brasil Acima de Tudo", criado em contexto totalmente diferente do "Alemanha Acima de Tudo", mas também com a intenção de unir povo de forma patriota e evidentemente não nazista, vai ter um significado pejorativo para aqueles que o quiserem atribuir.
Outro exemplo desta vinculação de símbolos nazistas com o que não é nazista está no fato do juramento à bandeira no Brasil e na maioria dos países ser feito com o braço direito esticado e ligeiramente inclinado para cima. Temos fotos disto no Brasil desde o século 19, desde antes de Hitler nascer. Vemos isto nos juramentos do Hezbollah e de outros países árabes. Não importa aos que usam estas imagens e argumentos fajutos e falsos (fake), que a saudação nazista fosse uma modificação deste movimento, também antes utilizado pelos soldados alemães com o braço, além de esticado e ligeiramente levantado, ter uma rotação para a direita e não estar perpendicular ao corpo. Mas quem sabe isso? Agora você sabe.
É meu dever, como jornalista e pesquisador, dar a quem quiser, a informação histórica correta.
Alguns dos acontecimentos terroristas de 1968
Segundo BRILHANTE USTRA (p. 161) outros fatos marcantes no ano de 1968: - intensificação do movimento estudantil levando à morte, [...] o estudante Edson Luis; - “Jornadas de Junho”, com passeatas, depredações, queima de veículo; - explosão de bombas, saques e viaturas incendiadas de norte a sul do país; - assalto ao Hospital Militar do Cambuci para roubo de armas; - atentado a bomba no Consulado Americano em São Paulo; - atentado a bomba no QG do II Exército, com a morte do soldado Mário Kozel Filho; - “justiçamento” do Capitão do exército dos EUA Charles Chandler; - “justiçamento” do Major do exército alemão Edward Ernest Tito Otto; - atos de sabotagem em trens e fábrica de armas; e assalto ao trem pagador na ferrovia Santos/Jundiaí.
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