terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Plutão não foi extinto… Para uns…

Nestes últimos dias do ano somos bombardeados com empulhação astrológica e mística fajuta. É duro de aturar. Você não sabe, mas os astrólogos se apropriam das coisas e as definem como ancestrais, milenares e além, para justificar suas teses. Recentemente ouvi uma das principais astrólogas do Brasil fazer previsões muito complicadas para Israel, Brasil e o mundo, não para 2014, mas para 2024. Perguntada se 2024 era um marco importante, ela disse: "Claro que é! É quando o Planeta Plutão entra da constelação de..." E do alto de uma falácia de alegar que a astrologia tem 10.000 anos "muito bem documentados". Mas não tem uma revistinha mensal que lhes mostre a realidade. Tal astróloga define como o ser humano olhando para as estrelas, a astrologia e não a astronomia.

É óbvio que para ela e outros astrólogos, os seres humanos andavam de cabeça baixa e não olhavam para as estrelas além do emblemático 10.000 anos atrás. Aliás, estavam os humanos ainda na Idade da Pedra. Nem sabiam que a Terra era um planeta, muito menos que se chamava Terra. Todo o início do período bíblico, Abraão, Monte Sinai, Moisés, Conquista de Canaã ainda era na Idade do Bronze. Não se tinha chegado nem ao ferro ainda (pelo menos no Ocidente). O mundo terminava ali no horizonte marítimo e os judeus deviam ter tanta certeza disso, que jamais construíram embarcações para testar esta tese que nos atormentou até as últimas décadas do século 15.

Plutão é considerado pelos astrólogos como o exemplo ancestral que define mudanças terríveis. Então se astrólogos horrorizados com as minhas blasfêmias me leem, fiquem sabendo: PLUTÃO NÃO É MAIS UM PLANETA !!! Então parem de dizer que "o planeta Plutão isto e aquilo". Sequer existia o então considerado planeta Plutão em 1929 !!! Ele foi descoberto em 1930, não por astrólogos, mas por astrônomos. E não se chamava Plutão! Era o "Planeta X". O observatório que o descobriu fez um concurso e recebeu mais de 1.000 nomes, sendo escolhido o enviado por uma menina de 11 anos chamada Venetia Burney, que gostava de mitologia e achava legal o nome do Deus do Submundo do politeísmo romano.

Nunca houve mapa astral com Plutão antes de 1930! O mesmo para os outros planetas a medida em que foram descobertos. Muito menos Plutão se refere a uma realidade do submundo, mas apenas a inocência de uma menininha.

Aposto qualquer coisa que nenhum astrólogo jamais previu a descoberta de Plutão e que jamais previram que Plutão não seria mais um planeta.

Astrólogos e All !!! Feliz Ano Novo, com a certeza de que o Planeta X, nunca mais irá amaldiçoar a humanidade e nunca mais irá "influenciar profundas mudanças". A astrologia antes da descoberta dos planetas e na época da Terra Plana devia ser muito ridícula...

© José Roitberg 2013 - jornalista e historiador

SNOWDEN, NSA AND YOU

Lá pelo início dos anos 2000 se falava num serviço de monitoramento global de comunicações telefônica e de emails chamado Echelon. A maioria achava que era ficção científica ou que era impossível. Mas vimos que é possível, está sendo feito e dentro da lei. Por que dentro da lei? Porque you, você, permite o monitoramento, por aceitar termos de instalação de softwares gratuitos topo de linha para seus computador e para o seu smartphone (APPs).

Se parar para ler as notas de instalação das principais APPs gratuitas, como Mapas, WhatsApp, Facebook, Twitter, Google Talk, Instagram, lerá que ANTES de vc a instalar, é apresentado ao que ela vai monitorar. Até mesmo APPs de desconhecidos acessam informações privadas. Invariavelmente monitoram: seu livro de endereços, seus torpedos enviados e recebidos, suas chamadas telefônicas, sua localização física (sem a qual os mapas e o GPS não funcionam, e os check-ins nos locais também não), seus emails enviados e recebidos, seus posts. Precisa de mais alguma coisa para monitorar alguém ou a todas as pessoas? Diga você. Foi você quem autorizou cada uma delas. Você não tem direito algum de reclamar estar sendo monitorado ou achar que isto é um absurdo.

Lá pela trigésima página do contrato do WhatsApp, temos em letras maiúsculas: "VOCÊ CONCORDA QUE O USO DO SERVIÇO DO WHATSAPP CORRE INTEIRAMENTE POR SUA PRÓPRIA CONTA E RISCO... e segue por mais alguns parágrafos.

Quando caímos para o computador, temos a praga que é o Gmail, Hotmail, Yahoomail e este Facebook, onde nos termos de adesão vc autorizou expressamente o seu próprio monitoramento. Ah... Mas vc só marcou caixinhas dizendo "ok" ou "eu concordo"... Vc assina um contrato de locação, de compra de carro, de empréstimo, sem ler? Creio que não. Então porque assina os contratos virtuais sem ler?

Conseguindo apenas boas informações pessoais e poucas profissionais com o Facebook, o sistema de monitoramento cria o Linkedin e passa a contar com dados profissionais profundos e o histórico profissional de mais de 1 bilhão de pessoas...

Mas pode até ser que vc afirme: "quando eu concordei, anos atrás, eu li e não tinha nada disso lá". Não se preocupe. Eu fiz a mesma coisa que você. Só que existe uma cláusula em todos estes contratos virtuais de super-serviços gratuitos que permite à empresa alterar cláusulas dos contratos quando elas bem entenderem. Google e Facebook sempre avisam aos clientes que "novas normas de privacidade em vigor" e permitem que vc saia fora ou concorde novamente. E é muito simples largar lá 4 GB de emails que vc nunca lerá novamente e ir embora. Mas ninguém vai.

"Novas normas de privacidade" significam novas normas de INVASÃO DE PRIVACIDADE. São normas a favor da empresa e dos sistemas de monitoramento e não normas a favor das pessoas. Aliás, você nunca parou para pensar porque estas coisas gigantescas são gratuitas? Nunca parou para pensar que empresa privada tem condições de oferecer 10 GB de espaço em disco para centenas de milhões de usuários? Vc consegue entender o número? É difícil mas vamos tentar.

10 GB são 10.000.000.000 de caracteres. Se a empresa tiver meros cem milhões de clientes, ela precisa ter espaço em disco para 10.000.000.000.000.000.000 de caracteres. O número é tão grande que ninguém sabe sequer pronunciar. E aí, na nossa ingenuidade achamos que dá para fazer isso tudo de graça sem ser o Estado. Que dá para fazer isso sendo empresa privada somente. Vou tentar colocar em termos mais simples: para cada cem milhões de clientes, precisa de 1 milhão de HDs de 1 Terabyte e um sistema simples para montar isso, os cabos, as fontes de alimentação as placas controladoras etc. Vc acha que isso é viável para a empresa privada ou está mais para um orçamento militar de segurança nacional?

Vc acha que uma empresa como a Google telefona lá para Seagate na Tailândia e diz: "Aí pessoal, tamos precisando de uns 50 milhões e hds de 2 tera. Quando vcs podem entregar? Dá para dar um desconto de 10%?"

Primeiro, monitoraram os emails e listas de amigos com o Gmail. Depois monitoraram informações pessoais de centenas de milhões de pessoas no Facebook. Informações estas que nenhum agente iria conseguir obter, mas que as pessoas disponibilizam para o sistema por conta própria. Depois o Face foi aprimorado para reconhecimento facial, e isto é a verdade, não mais ficção científica. Já experimentou colocar fotos de pessoas no Face? Já aparecem sugestões de nomes de quem está na foto. Muitas vezes de forma errada, muitas vezes de forma correta. E não é nenhum batalhão de agentes que cria os bancos de dados de identificação facial, mas eu, vc, e nossos amigos que "marcam" as fotos espontaneamente. Não tenha dúvidas de que o banco de dados de reconhecimento facial do Face é integrado à NSA para o controle de fronteiras americanas e identificação de suspeitos. Coisa se série de TV, mas muito real. Basta ver a velocidade com que foram identificados os dois terroristas da Maratona de Boston, que tinham perfis na rede social.

Por fim. O monitoramento mundial conta com you, com vc. Na figura abaixo temos as configurações do Google Chrome, sistema de browser utilizado por bilhões de pessoas no mundo. Na opção "privacidade", o padrão é que a caixa que permite o monitoramento esteja desmarcada. Sugiro que marque, e torça para não ser apenas um engodo. Até porque o termo "rastrear" é amplo demais para vc deixar a cargo da Google e da NSA.

Lembra do cartaz de recrutamento mais emblemático da Segunda Guerra Mundial com o coveiro Uncle Sam? "I Want You !" Hoje Uncle Sam diria "I Watch You ! "

como o google monitora sua navegação

@ José Roitberg 2013 - jornalista e historiador

domingo, 29 de dezembro de 2013

Movimento Sionista Betar no Brasil 1947-1961

Surgiram estas preciosas fotos do Movimento Sionista Betar, que ia além de um grupo juvenil em suas atividades no Rio de Janeiro.

Com o monopólio historiográfico judaico por pessoas da esquerda judaica o Betar no Brasil foi varrido da história como se nunca tivesse existido. Exatamente o mesmo que movimentos juvenis de esquerda (Shomer, Dror, Chazit, Ichud, Bund, Clube da Juventude Israelita, Iugen Heim, ASA, Frischman e tantos outros) fizeram com a memória dos jovens que não eram da esquerda e combateram no Gueto de Varsóvia.


Pavel Frenkel

O Betar estava no Gueto de Varsóvia e praticamente todos os seus integrantes foram mortos em combate ou logo depois. Assim sobrevivendo jovens da esquerda, somente, contaram a história como lhes convinha. O Betar formou o ZZW (ZIDOWSRY ZWIZAEK WOJKSOWY - União Militar Judaica). Seus comandantes foram Pavel Frenkel e Leon Rodal, mortos em combates contra os soldados nazistas em abril de 1943


Leon Rodal

O Betar também combateu nos levantes dos guetos de Vilna e Bialistok. Poucos dos que sobreviveram a estes dois combates se incorporaram a unidade partisans de guerrilha. Todavia os membros dos grupos do Betar nos vários países da Europa foram praticamente 100% exterminados no Holocausto.

O Betar sempre foi acusado de ser “da direita fascista”, pelos militantes da esquerda já nos anos 1930 em Israel pelo fato de seu uniforme ter camisas de cor marrom-avermelhada escura. Os judeus de esquerda afirmavam que eram os 'camisas marrons' fascistas e nazistas. Mas convenhamos, as SA nazistas usavam marrom claro, quase bege, e os fascistas italianos usavam camisas pretas. Obviamente não interessa à propaganda judaica de esquerda que as camisas marrom-avermelhadas escuras foram criadas junto com o movimento na Latvia, em 1923, dois anos antes de Hitler escrever o Mein Kampf e sonhar com suas próprias camisas beges. Para o Betar o tom de marrom de suas camisas significava a terra de Israel.

Posteriormente, com a ascensão do nazismo o Betar fora da Alemanha passou a usar camisas brancas ou camisas azuis. Lembre que a imprensa era com fotos preto e brancas e a simples menção de "camisas marrons" era complicada por não ser possível ver os tons de marrom nas fotos. Na foto abaixo, uma manifestação de rua do Betar em Berlim, em 1934, já em pleno vigor da administração hitleriana. Podemos ver os jovens com camisas brancas e bandeira do movimento que unia a 'bandeira sionista' com uma menorá estilizada com a base como uma lâmina de punhal.

Betar na rua um Berlim em 1934


Mas a esquerda determina que tudo que não é esquerda é fascista. Apenas propaganda partidária. Assim, democratas são fascista, republicanos são fascistas, legalistas são fascistas, conservadores… Ah, estes são muito fascistas. É a visão da esquerda e é o que foi propagado por seus livros e ícones culturais.

Mas as pessoas do Betar aí estão, burgueses, democratas, pró-Israel, sionistas que foram embora, sionistas que ficaram.

O Betar não deixou sua história escrita no Brasil, nem na Europa, pois praticamente todos imigraram para Israel. Seus ícones são detestados pela esquerda judaica e pela direita religiosa ortodoxa judaica.


São Jabotinsky e Trumpeldor que desde antes da Primeira Guerra Mundial já pregavam que os judeus fossem capazes de se defender dos pogroms na Europa Oriental, enquanto a esquerda buscava e depois implementava sua revolução sanguinária e os religiosos implementavam a vontade de Deus para retirar dos cristãos ortodoxos do Império Russo e depois dos comunistas não tão ateus assim, a responsabilidade pela matança de judeus. Exatamente o que o Rabino Chefe Sefaradi, Ovadia Yossef z´l fez poucos anos atrás em relação aos nazistas. Nessa visão absurda da ortodoxia (mas não é uma visão geral), os que mataram judeus agiram movidos pelo “nosso Deus” para nos punir. Ah! Que se danem os que pensam assim e rezam para Deus mandar chuva todo ano…

Em março de 1920 oito judeus foram mortos num ataque árabe contra o povoado de Halsa, bem ao norte. Entre eles, Josef Trumpeldor fundador do movimento sionista russo Hejalutz. Entre 1919 e 1920, Halsa estava sob controle francês. Em dois meses, os árabes atacaram outras oito colônias de judeus. Esses ataques levaram os judeus a criarem a Haganá - Força de Defesa em junho. No ano seguinte os ataques árabes continuaram em áreas rurais e se iniciaram nas áreas urbanas, em Jaffa, Rehovot, Petah Tikva, Hadera, Haifa e Jerusalém, onde o bairro judeu foi duramente atacado e os árabes repelidos pela Haganá. Neste clima anti-judaico, os ingleses proíbem os judeus de entrar na "Tranjordânia."


Joseph Turmpeldor com uniforme
britânico em 1916
Em fevereiro de 1915 o comando britânico em Alexandria, no Egito, aprovou o plano de Zeev Jabotinsky e de Joseph Trumpeldor para criar uma tropa formado por judeus imigrantes russos que iriam participar da libertação da 'Palestina' do Império Otomano. O recrutamento começou pelos judeus que estavam no Egito e tinham sido expulsos da 'Palestina' pelos Otomanos em 1914 por serem russos, portanto inimigos na Primeira Guerra Mundial. O primeiro contingente foi de 650 soldados, dos quais 562 participaram da Batalha de Galipoli. Era uma unidade de transporte chamada de Zion Mule Corps. Eles se uniram em solo turco ao 9th Mule Corps da Índia, na tarefa complicada de abastecer de água as tropas da linha de frente de combate. Apenas 13 soldaos do Zion Mule Corps foram mortos. Trumpeldor, recebeu o posto de capitão e levou um tiro de fuzil no ombro, mas recusou a ser evacuado, continuando em suas funções. O ZMC foi desfeito em janeiro de 1916. No ano seguinte seria formada a unidade de combate conhecida por Legião Judaica, mas é assunto para outro artigo.


Zeev Jabotinsky com uniforme
britânico em 1917
Jabotinsky fundou o Betar homenageando Trumpeldor em 1923. Este é um ano emblemático, pois foi quando o Império Britânico promove a Primeira Partilha da Palestina do Mandato Britânico, criando oficialmente a Transjordânia e ampliando oficialmente a proibição de cidadãos judeus lá, já em vigor desde 1920. Portanto, na prática, o Estado Árabe segregado composto por mais de 70% do território da Palestina do Mandato.





As fotos abaixo não possuem legenda alguma. Não sabemos o nome sequer de uma pessoa nelas. Seria interessante se pudéssemos identificar algumas. Use os comentários.

Todas as fotos foram divulgadas pelo historiador militar Israel Blajberg

Fotos do Betar no Rio de Janeiro 1949 - 1961 - 7 FOTO DE ISRAEL BLAJBERG
Essa é uma foto inequívoca de um grupo do Betar antes de embarcar em navio italiano para Gênova, fazendo aliá (emigração para Israel). A rota pela Itália, depois embarcando em navio menor para Israel era a rota comum do final dos anos 1940 e da década de 1950 inteira. É no Porto do Rio.


Fotos do Betar no Rio de Janeiro 1949 - 1961 - 6 FOTO DE ISRAEL BLAJBERG
Parece outra foto de emigração de outro grupo em data mais recente


Fotos do Betar no Rio de Janeiro 1949 - 1961 - 5 FOTO DE ISRAEL BLAJBERG
Tirada no centro do RJ pelo menos a mulher que está à direita com o livro na mão é a que está na fila do centro da foto anterior com camisa quadriculada. Quem terá sido o elemento expurgado do grupo? E qual teria sido o motivo?


Fotos do Betar no Rio de Janeiro 1949 - 1961 - 4 FOTO DE ISRAEL BLAJBERG
Gente de todas as idades, num evento do Betar com a emblemática frase judaica, já caída no esquecimento: “no ano que vem, em Jerusalém”, sempre na esperança dos judeus de voltar a sua cidade mais sagrada. Notamos que não há um bibico do Betar no Museu Judaico. Será que alguém ainda guardou um?


Fotos do Betar no Rio de Janeiro 1949 - 1961 - 3 FOTO DE ISRAEL BLAJBERG
Está foto é provavelmente no campo do América onde a Comunidade Judaica realizava grandes festas como o Aniversário da Independência de Israel, e já muito antes disso, a esquecida festa de Bikurim, comemorando as colheitas em Israel. Vemos os adultos em ternos e os jovens com uniforme o Betar.


Fotos do Betar no Rio de Janeiro 1949 - 1961 - 2 FOTO DE ISRAEL BLAJBERG
Evidentemente é um evento. Pela faixa incipiente com o nome do Betar em hebraico, onde se lê claramente a ortografia “Beitar” podemos arriscar imaginar que poderia ser a foto de fundação do grupo no Brasil. Mas é só suposição. Pelos ladrilhos, aparenta ser um salão do Liceu Português, mais do que no Clube Ginástico Português, muito utilizado pela Comunidade, durante décadas, antes da construção da Hebraica. É notável que a reunião tenha ocorrido sob o retrato de Trumpeldor, fixado bem alto na parede.


Fotos do Betar no Rio de Janeiro 1949 - 1961 - 1 FOTO DE ISRAEL BLAJBERG
Aniversário da Independência de Israel em maio de 1961. É a única foto da qual podemos ter certeza da localização temporal


José Roitberg - jornalista e historiador

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Previsões para 2009. O que deu certo e o que não deu? (em dezembro de 2013)

Estava relendo algumas matérias do meu blog e encontrei estas previsões de dezembro de 2008 para dezembro de 2009, atualizadas em 2011. Vamos a elas.

1)  (2008-2011) “Os cartões de memória SDHC tinham rompido a barreira dos 4GB. Um classe 10 de 8 GB custava 100 reais. Hoje está mais caro… Em compensação se pode comprar cartões de 32 GB. Se a velocidade for baixa, são baratos. Eu previ que em 2009 a indústria ia despejar cartões de 128 GB, mas isso não aconteceu.”

No final de 2013, os cartões classe 10 de 64 GB estão por aí sem dificuldades. Custam 100 dólares (250 reais). Um cartão de 8 GB caiu para apenas 45 reais e ainda continua sendo muito útil. Os cartões de 128 GB ainda não se consolidaram no mercado pois estão caríssimos, a 340 reais.

2) “Em 2008 eu não via utilidade para cartões de 32 GB, pois falávamos de fotos. Hoje com capacidade de vídeo 1080i até em telefones celulares o 32 GB é necessidade (para quem grava muitos vídeos) e é até pequeno.”

Para o usuário comum, aquele que fotografa vez por outra e não enche seu telefone com vídeos, 32 GB continua sendo muito. No caso das câmeras fotográficas, 32 GB continua sendo demais da conta, permitindo 800 fotos RAW de 40 MB ou 8.000 fotos em JPG de alta qualidade. Infelizmente a maioria das pessoas ainda não percebeu que anda com poderosas máquinas fotográficas e filmadoras, 24 h por dia e a produção de vídeos é mínima, até se considerarmos os pornôs. Na época do Super 8, parece que muito mais material de filmes pessoais e familiares foi produzido, que hoje. Um dos fatores ainda é a complexidade da edição de vídeo no computador, por mais simples fácil e gratuita que seja.

3) “Achávamos que câmeras de foto com 8 megapixels eram suficientes e fabricantes estava cancelando lançamentos de 12 megapixels, o valor das profissionais da época. Eu achava que 8 bastavam para qualquer uso e que a melhoria deveria ser do chip de captação que deveria crescer. Isso não aconteceu. Máquinas pequenas tem chips pequenos ainda com qualidade de imagem inferior, mas os 14 megapixels estão por todo o lado. Pessoalmente regredi em  2011 de uma máquina de 14 mp para uma de 12 mp com CCD maior.”

Em 2013 até mesmo eu já consegui comprar uma máquina fotográfica do sistema “mirrorless” com sensor enorme APS-C. Estas máquinas variam de 16 a 20 megapixels, dependendo do fabricante, são de preço médio a caro, usam lentes intercambiáveis e tiram fotos espetaculares. A máxima da máquina pequena com sensor pequeno entre 14 e 16 megapixels se consolidou no mercado, mas elas não apresentam imagens com nitidez e qualidade nem aproximadas às mirrorless: é como se fossem fotos de rascunho. Os fabricantes estão faturando alto com a venda de lentes para estas máquinas e não há interesse deles em colocar sensores APS-C em máquinas realmente pequenas com com zooms grandes. Já é comum, no mercado encontrar boas máquinas de sensor pequeno com zooms de 30 a 50 vezes o que é impressionante. AInda assim, um sensor APS-C não dá a qualidade de uma máquina profissional com sensor full-frame. Intencionalmente não há padrão de dimensionamento dos sensores para dificultar que vc compare esta com aquela marca.

4) “Previ que as câmeras de vídeo iam abandonar as fitas pelos cartões de memória e isso é um fato incontestável.

2013 - Mas não era imaginável que a própria câmera de vídeo estivesse com os dias contados. Cada vez mais se produz filmes full hd profissionalmente com câmeras fotográficas, há centenas de assessórios para facilitar o manuseio e as máquinas com suas lentes intercambiáveis são muito mais baratas que filmadoras com lentes intercambiáveis. Ganha o foto e o desfocado, ganha a criatividade e o peso e o menor volumes transportados.

5) O notebook popular sem hd e apenas com memória flash não é produzido por questões políticas. Em compensação em 2008 não se imaginavam os tablets que acabam sendo exatamente o que um notebook popular deveria ser.

2013- Impressionantemente, os hds em estado sólido não se consolidam no mercado, devido ao preço. O HD SSD mais barato custo 600 reais e é uma unidade de apenas 240 GB. Por este valor, se compra 3 HDs de 1 terabyte (3 Teras) e ainda sobre um troco. Os tablets não estão chegando a lugar algum e a tendência é que deixem de existir substituídos por telefones maiores. Não se vê aplicação comercial, industrial, pública, seja lá o que for, onde o tablet tenha se consolidado. O número de pessoas que compram tablets, hoje a menos de 200 reais é enorme, mas o que as pessoas fazem com eles, além de jogar joguinhos porcaria é um mistério. Nos EUA a venda de livros eletrônicos não para de crescer e no Brasil, com os mesmos equipamentos à venda ela “não para de começar a vender”.

6) As companhias telefônicas dava cartões mini-SD com apenas 128 MB em 2008. Hoje já dão com 2 ou 4 GB, apesar de você poder colocar até 32 GB no seu samrtphone por um custo muito baixo.

Em 2013, cartões mini SDHC com 8 ou 16 gigas são dados de graça ou comprados baratos nos mais diversos camelôs.

Aos poucos o padrão mini-SDHC está comendo o SDHC, mas continua com um problema insolúvel. É tão pequeno que sequer tem onde escrever nem ao menos o número do cartão para se poder diferenciar e identificar os cartões.

Isso parece que nunca será resolvido. Os cartões deveriam ser grandes para facilitar o manuseio.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O Enterro do Sabão - Memorial do Holocausto do Rio de Janeiro - 1947

Rio Judeu que o Povo Esqueceu

O Enterro do Sabão

A realidade sepultada por mitos, tinha restado deste episódio da história dos judeus no Rio de Janeiro. Evento relacionado ao Holocausto, ainda em 1947, ausente dos livros sobre história comunitária. Haveria motivo? A história era emocionante. Como desapareceu?

Pequeno caixão coberto por talitim conduzido pelas ruas da Praça Onze. De barba, o rabino Tzikinowsky.

O mito propagado nas últimas décadas sobre o Memorial do Holocausto do Cemitério de Vila Rosali Velho, afirmava "ter sido enterrada" lá uma caixa com sabão feito com gordura de judeus pelos nazistas. Cada vez mais pessoas que falavam sobre o assunto duvidavam da ocorrência desta ação. Trazendo uma faceta heroica para o mito, dizia-se tal caixa com o sabão de gordura humana ter chegado ao porto do Rio e de lá, seguido por trem, em vagão plataforma, escoltada por quatro membros dos movimentos juvenis judaicos, com tochas ou bandeiras (dependendo da fonte). 

Fazia até sentido pois a linha do trem passa do outro lado do muro, hoje de trás, do cemitério. Mas desde sua inauguração em 1928 a entrada do cemitério era praticamente lá na Estação Vila Rosali, tanto que a numeração de túmulos começa por lá e eles estão voltados para aquela direção.

Mas há uns sete anos atrás, foi encontrado um filme de três minutos, de 16 mm de Herszt Roizemblit, o único judeu a ter uma câmera de cinema semi-profissional na época. Não há imagens do trem, das bandeiras, nem de nada parecido. Teria nosso câmera que não imaginava estar flagrando um momento importantíssimo de nossa história chegado atrasado? Ou tudo teria se desenrolado de forma diferente? O filme deixou mais dúvidas que soluções e está há anos postado por mim no YouTube.

Um dos comentários feitos a este filme é de uma senhora afirmando que o pai dela contava outra história semelhante, mas não igual. Seria ele membro da liderança da Comunidade judaica de São Paulo e ido ao Porto de Santos receber a caixa com o sabão, escoltando-a junto com outros paulistas, em vagão normal, para o Rio de Janeiro e participando da cerimônia?

Dificultava a pesquisa o fato de não se conseguir definir as datas originais colocadas em letras metálicas do lado de fora do Memorial e furtadas em sua maioria ao longo do tempo. O local é chamado por muitos, de forma pouco digna, de Memorial do Sabão (abaixo). É uma estrutura bege e branca com cúpula preta encimada por uma estrela de David, bem no arruamento central do cemitério. Ao longo dos anos as cerimônias comunitárias do Dia do Holocausto sempre foram realizadas ali. Só há duas estruturas que não são túmulos por lá. A outra, um tanto afastada e mais próxima à entrada original é o jazigo da família Guertzsenstein.

Memorial dos Mártires do Holocausto, cemitério israelita de Vila Rosali Velho

O pesquisador Dr. Joachim Neander da Polônia, entrou em contato com a Chevra Kadisha, recentemente e afirmou que nosso monumento estadual pode ser o primeiro memorial do Holocausto das Américas. Nosso amigo Davis Taublib orientado por Neander chegou aos Diários Associados (detentor do acervo e arquivo da revista O Cruzeiro) e Karla Luz, dos Diários cedeu a matéria da revista. Pronto, estabelecemos um momento exato. A publicação é do dia 01 de novembro de 1947. Como a revista era quinzenal, bastou começarmos a procurar no mês de outubro até encontrarmos.

A matéria de O Cruzeiro é pouco informativa, mas escrita pelo conceituado David Nasser. Ao longo de quatro páginas com grandes fotos, umas poucas linhas repetem basicamente a nota oficial de chamada da Comunidade judaica sem qualquer esclarecimento ou detalhe do evento acontecido. Das 17 fotos publicadas, apenas uma é relacionada ao evento, ficando as outras para mulheres aos prantos em túmulos do cemitério. Aliás isso chamou a atenção da mídia em geral: mães e avós se atirando aos túmulos aos gritos e chorando pelos seus entes queridos enterrados. O que teria isto a ver com o "sabão?" Nada.

O evento foi no dia 12 de outubro de 1947, um domingo, sem relação alguma com Rosh Hashaná, que caiu no dia 14 de setembro e Iom Kippur no dia 23 de setembro. Quatorze meses antes da inauguração oficial do cemitério novo, com seu primeiro sepultamento a 5 de dezembro de 1948. É provável que muita gente tenha aproveitado a ida no dia 12 para compensar a visita tradicional no período das festas, duas semanas antes. É longe ainda hoje e era bem mais longe na época.

 

AS MANCHETES


O evento teve cobertura ampla por todas as mídias, sejam isentas, de direita ou de esquerda. Mesmo assim, caiu no esquecimento. Foi o evento judaico mais documentado e publicado na história dos judeus no Rio de Janeiro. Página do Diário da Noite.

A cobertura de O Cruzeiro nos mostra que publicar, nem sempre é informar. A revista minimizou os acontecimentos com a manchete simples: "Num cemitério do Rio - Enterro de Sabão Humano."  O texto e a cobertura trans formam-se em sensacionalismo de judeus entristecidos no cemitério e deixa de lado o evento.





A foto foi invertida para publicação, por questão estética e o responsável nem imaginou que o texto em hebraico do túmulo estava ao contrário.


Já outros jornais foram bem mais enfáticos, inflados, errados e sensacionalistas: "Centenas De Vítimas De Hitler Serão Enterradas Amanhã Num Dos Cemitérios Do Rio - Imenso cortejo de automóveis levando em caixotes, os corpos de judeus que os nazistas transformaram em sabão", deu o Diário da Noite que parece não ter entendido o que iria acontecer, mas nos deu a cobertura mais completa, depois.




“Será Sepultada Hoje A Gordura Humana, a cerimônia promovida pelos israelitas será no cemitério de Vila Rosali", deu o Diário Carioca.
 
"Um Enterro Original - Barras de sabão feito com gordura humana serão inumadas, simbolicamente, no cemitério de Vila Rosali", publicou o Diário de Notícias.

"As Vítimas Do Nazismo - A cidade assistirá na manhã de hoje a uma cerimônia fúnebre sem precedentes: corpos humanos, convertidos em produtos industriais, serão conduzidos até um cemitério israelita, em remoto subúrbio, e aí sepultados", no Correio da Manhã. 


"Levadas À Sepultura As Barras De Sabão Feitas Com Despojos Humanos - 5.000 Pessoas e 600 Automóveis No Cortejo Fúnebre Das Vítimas De Hitler", estampou o Diário da Noite em matéria da página inteira com sete grandes fotos.



“Sepultados Os Pedaços De Sabão Fabricados Com Banha De Judeus - Milhares de carros e dezenas de milhares de judeus acompanharam os restos mortais de seus irmãos de sangue numa cerimônia tocante: choro, gritos e velas", inflou o jornal A Noite em sua primeira página.



"Milhares de pessoas no enterro simbólico das vítimas nos nazistas", colocava de forma muito correta o Tribuna Popular, um jornal comunista circulado apenas entre 1945 e 1947.

O Globo dá em sua primeira página.

Assim, trocamos o mito pela verdade. Não houve navio, nem trem, ou plataforma, e muito menos, as tochas levadas por jovens. Que fique claro: esta versão corriqueira e errada não foi estimulada, criada ou divulgada pelos movimentos juvenis que a ignoravam. Nunca saberemos quando e onde surgiu.

 

AS BARRAS DE SABÃO

A chegada dos sobreviventes do Holocausto ao Brasil foi acompanhada por uma comprovação das atrocidades. Alguns deles trouxeram uma barra de sabão "R.I.F." ("Pura Gordura de Judeus - Reine Juden Fetz" - conforme os jornais publicaram na época), que teriam recebido ainda em cativeiro para uso em sua higiene.


KUM BERL!

Dois deles são identificados pelo Diário da Noite, como os "irmãos Samenson e Leib". E eles publicaram sobre o assunto em seu livro de memórias. Após ler a primeira publicação desta matéria na Revista Menorah, Betty Moszkowicz entrou em contato e nos contou: "Meu pai Szamszon Ber Jarczun z'l (conhecido como Bóris) e seu irmão, Lejba Jarczun z'l (Leão), judeus imigrantes da Polônia, nos contaram sobre o sabão feito de banha humana. Agora graças ao seu artigo, descobri que eles fizeram muito mais que apenas relatar este fato às suas famílias. Na folha 146 da biografia de Bóris, "KUM BERL!", temos: “Meses antes de embarcarem para o Brasil, Bóris, Leão e Estera (prima e futura esposa de Leão) foram a uma birosca na cidade de Zabje comprar sabão para lavar a roupa. Bóris lembra que era uma pequena barra 3x4 de um branco encardido. Quando chegaram de volta em casa, Bóris percebe uma inscrição e fica horrorizado > R.I.F. - Pura gordura de Judeus – Os três voltam à loja e compram todo o sabão à venda. Seguem para birosca seguinte e fazem o mesmo. Guardam os pedaços, cuidadosamente, para traze-los consigo.”
 
Contrário ao que Sameson escreveu em sua biografia, ele (à dir) e Leib (à esq) foram entrevistados pelo jornal Diário da Noite no dia 30 de setembro de 1947. Na foto, a única que parece existir, mostrando as 16 barras de sabão R.I.F.

Na página 151 de KUM BERL! temos: "Moyses se lembra bem dos primeiros 'lanches e papos'. A vizinhança toda aparecia. Todos querendo ouvir os relatos da guerra. Todos tinham uma língua em comum: o iídiche. Em algum desses momentos das histórias da guerra, vem à baila os pedaços de sabão que tinham trazido da Polônia. Todos ficam horrorizados, mas não paralisados. A imprensa é avisada. Nenhum dos três quer contato com a imprensa. 

Traumatizados pela guerra, não queriam ser foco de atenções, queriam o protegido anonimato. E ainda mais quando souberam que Luiz Carlos Prestes gostaria de se encontrar com eles. Bóris 'surtou'. Não queria nada com nenhum comunista. Com cobertura da imprensa, estes pedaços de 'sabão' foram enterrados no cemitério de Vila Rosali. Sem a presença de Bóris, Leon e Ester. Mas Bóris só não foi naquele ano, nos anos seguintes, em 15 de Elul, ele visita a sepultura desses judeus anônimos. (E sua neta Michelle, com sua família, presta neste mesmo dia, em Israel, uma homenagem às vítimas do holocausto, em nome dos Jarczun.)"




A chegada das barras de Sabão R.I.F. ocorreu em todos os lugares para onde os sobreviventes de campos de concentração nazistas na Polônia foram após a Segunda Guerra Mundial, inclusive para Israel onde há várias destas caixas enterradas. A conversa se propagou, as barras foram vistas e passadas de mão em mão no Rio de Janeiro, até que o rabino chefe, então M. Tzikinowsky, decidiu: eram restos humanos judaicos e os restos humanos precisam ser enterrados conforme a halachá (a lei religiosa judaica). O rabinato então, pediu que as barras lhe fossem entregues. Um dos jornais declara: "a exemplo do que já foi feito nos Estados Unidos".

Isso indica que parte a história de um grupo de São Paulo ter trazido uma caixa com barras de trem para o Rio de Janeiro provavelmente é verdadeira: os sobreviventes radicados em São Paulo devem ter enviado suas barras para a cerimônia, bem como judeus de outros estados, pois as matérias de jornal dão conta de judeus vindos de todas as comunidades brasileiras.

 

A CERIMÔNIA

Consta que dezesseis barras foram reunidas na manhã do dia 12 de outubro e examinadas pelos rabinos Henrique Lemle (alemão liberal), Zingerevitch e Tzikinowsky. As oito horas da manhã, o rabino Tzikinovsky, alto de barba branca e óculos nas fotos, inicia a cerimônia no Grande Templo Israelita, à rua Tenente Possolo, já na presença da mídia e cerca de 5.000 pessoas lotando o templo e as ruas ao redor, e mais de 600 carros particulares, taxis e de aluguel estacionados: "Uma grande massa se comprimia no interior do templo e entoava cânticos e preces pela alma dos sacrificados", do Diário da Noite.

A cerimônia teve a organização, juntamente com a Sociedade do Cemitério Israelita do Rio de Janeiro (Chevra Kadisha), da "Sociedade Ostroweer ou Comitê de Socorro aos Israelitas Sobreviventes de Ostrowiec", formada por imigrantes anteriores daquela cidade e sobreviventes do campo de concentração de Stutthof, na Polônia, região de Danzig, onde funcionaria a tal confecção macabra do sabão "R.I.F."

As dezesseis barras foram colocadas na frente do Aron Ha Kodesh (o armário onde são guardados os rolos da Torah) e o chazan (cantor litúrgico) Steimberg, entoou "os salmos 88, 89, 82, 83 e 85, todos eles referentes aos sofrimento de Israel e pedindo de D'us se compadeça de seu povo", conforme o jornal A Noite.

Ao centro o chazan Steimberg e à esq o rabino Tzikinowsky nas orações dentro do Grande Templo Israelita. O pequeno caixão com as barrinhas de sabão pode ser visto, coberto, ao que parece por entre 2 a 4 talitim (xales de oração). Foto do Diário da Noite 

As oito e meia da manhã o cortejo fúnebre começou a se deslocar, tendo a frente uma grande comissão identificada por braçadeiras, carregando o caixão "coberto com uma toalha branca e bordada", ou "um pano com listras azuis e brancas" na visão dos repórteres. Mas foi um talit que está bem nítido nas fotos e no filme.

Do Diário da Noite

Figuras de destaque da comunidade revezavam-se, carregando o pequeno caixão a pé pelas ruas Mem de Sá, Santana, até a Avenida Presidente Vargas onde parou no templo Israelita "Yaven" (segundo A Noite) ou a "Sinagoga da Praça Onze" (segundo o Diário da Noite). Mas naquele momento, a sinagoga da Avenida Presidente Vargas era a Beyruthense, no número 1.197 desde 1944. Isso justifica uma segunda cerimônia: a primeira no Templo no rito ashkenazi e a segunda na Beyruthense no rito sefaradi entoado por Maurício Sztaitman.
 
Rabinos Tizkinowsky (à esq), Zingirevitch (à dir) e outro não identificado, ao centro levam o pequeno caixão com as 16 barrinhas de sabão - O Cruzeiro (foto cortesia do arquivo dos Diários Associados-MG)

Às 10 horas o caixão foi colocado no carro fúnebre e todo o cortejo se dirigiu para Vila Rosali.

Os números de cada jornal variam muito. Mas o evento foi enorme. A Noite, um jornal considerado sério e não muito sensacionalista descreve: "A seguir, em cerca de 2.000 carros, centenas e centenas de judeus acompanharam os simbólicos restos mortais de seus irmãos torturados e mortos pelos nazistas." O jornal comunista Tribuna Popular, fala em 500 carros. Sobre a cerimônia na segunda sinagoga o Diário Carioca, traz: "Essa solenidade ao ar livre foi deveras chocante, tendo a massa humana que ali se comprimia, chegado mesmo a interromper o tráfego pela Avenida Presidente Vargas."
 
Membros importantes da Comunidade Judaica se revezam carregando o pequeno caixão pelas ruas da Praça Onze. Foto do Diário da Noite

O ENTERRO

No cemitério, as barras de sabão foram levadas ao local de purificação onde os corpos são lavados, o que é claro não foi feito com elas, sendo envolvidas individualmente em panos brancos "ainda não utilizados" e cobertas com o talit, segundo um jornal ou "cada peça de sabão foi posta em um saquinho de linho branco", segundo outro, e em seguida houve o enterro.

"Vários discursos foram pronunciados à beira do túmulo por membros destacados da colônia, que em seu idioma (ídiche), versavam em protestos conta a selvageria nazista e erguiam-se em exortações pelo eterno descanso de seus compatriotas mortos. Entre eles, o professor Américo Valério, da faculdade de medicina, que condenou as práticas bárbaras dos nazistas e exaltou o heroísmo dos judeus. Maurício Sztaitman, entoou os últimos cânticos fúnebres e o kadish (oração "a sagrada" em louvor a Deus, cantada nos sepultamentos e no luto), acompanhado em massa por todos os presentes.
 
Momento exata quando o pequeno caixão foi colocado na cova sobre a qual seria construído o Memorial do Holocausto no Cemitério Israelita de Vila Rosali (Velho). Foto do jornal A Noite


.O jornal A Noite, termina sua matéria dando conta de algo que passaria despercebido na história não fosse a determinação de sua linha política em publicar outras oito linhas: "Os comunistas também compareceram. Os comunistas se infiltram em toda a parte e não perdem a oportunidade de tirar partido de tudo. Lá estavam eles também no cemitério dos israelitas, tendo a frente seu chefe, sr. Luiz Carlos Prestes, procurando, por certo, fazer adeptos entre os judeus."

Evidentemente a visão do jornal comunista é muito diferente: "Durante o percurso, centenas de populares atraídos pela curiosidade, indagavam quem tinha morrido. Informados, manifestavam seu horror e protesto. No Mangue, uma senhora católica disse, revoltada, aos passageiros dos carros: 'do nazismo e fascismo só se pode esperar isso'. O senador Luiz Carlos Prestes e o deputado Maurício Grabois assistiram ao sepultamento simbólico dos restos mortais de milhares de vítimas do nazismo. Calorosamente aplaudido por ocasião da sua chegada, Prestes foi cumprimentado pelos rabinos e inúmeras outras pessoas da colônia judaica." Abel Chremont, presidente do Partido Popular Progressista se alinhou ao lado de Prestes e Grabois.


Na foto da Tribuna Popular, Luis Carlos Prestes está de chapéu, o segundo a esq, ao centro com bigode, Maurício Grabois e de terno claro listrado, provavelmente Abel Chermont
(ainda à confirmar)

E AS CONTROVÉRSIAS?

Mas o que está de fato enterrado lá? A estória de que estariam fazendo sabão com gordura de judeus era uma estória criada pelos próprios nazistas para intimidar os poloneses, para que eles tivessem medo de ter o mesmo destino dos judeus. Os rumores tomaram um vulto tão grande que a população polonesa parou de comprar sabão e Himler, o chefe da SS determinou que os corpos dos judeus fossem cremados e transformados em cinzas o mais rápido possível. O rumor foi publicado pela primeira vez no The New York Times em 1942. Há uma carta de 20 de novembro de 1942 de Himler para o chefe da Gestapo, Heinrich Müller, após a publicação do jornal americano: "Você me garantiu que em cada um dos locais os corpos dos judeus mortos foram ou queimados ou enterrados, e que em nenhum lugar nenhuma outra coisa poderia acontecer com os corpos", exigindo uma explicação oficial para o rumor publicado.
 

Barra original do sabão RIF do acervo do museu do kibtuz Lohamei HaGuetaot (Combatentes dos Guetos), o primeiro "Yad Vashem" até 1969. Há muitas fotos do sabão RIF com vários lotes e formatos diferentes na Internet

Acima você vê uma barra de sabão RIF com número de lote 0034 que está no Museu da Casa dos Combatentes do Gueto - Lohamei Ha Guetaot, em Israel. Não há como confundir o "I", com "J". Os poloneses e russos que escreveram inicialmente sobre o assunto entenderam R.I.F., como R.J.F. (Reine Juden Fett) o que seria "Pura Gordura de Judeus". Mas a marca R.I.F. era (Reichsstelle für Industrielle Fettversorgung) "Centro Nacional de Fornecimento de Gordura Industrial" a agência do governo nazista encarregada da produção e distribuição de sabão e produtos de limpeza durante a guerra. Os diversos produtos R.I.F. e eram considerados péssimos e não continham gordura nem animal, muito menos humana. A gordura era necessária para fabricação lubrificantes e explosivos.

”Judeu” em qualquer das línguas do centro ou leste europeu não é com a letra com a letra “I”. No caso do ídiche, o termo o “Yid”, com a letra “Y”. Em alemão, Jude; em polonês, Żyd; em romeno, Evreu; em lituano, Judėjas; em russo, Eврей, em húngaro, Zsidó. A única explicação plausível seria o termo “israelita”, com “i” em todas as línguas, mas que não é citado em nenhuma matéria de época no final dos anos 1940.

 
Durante os Julgamentos de Nuremberg (dos criminosos nazistas após a guerra), Sigmund Mazur, técnico assistente de laboratório do Instituto de Anatomia de Danzig (na Polônia alemã) testemunhou sob juramento e sob pena de ser condenado à morte, que fizeram sabão com gordura humana no campo de concentração em 1943.

Em sua declaração, lê-se que foram obtidos 70 a 80 kg de gordura de 400 corpos (menos de 200 gramas por corpo) e com isso se produziu 25 kg de sabão entregues ao professor Rudolf Spanner. Era um estudo de viabilidade que foi considerado oneroso, difícil e fracassado. Seu testemunho pode ser visto em

http://en.wikisource.org/wiki/Testimony_of_Sigmund_Mazur_before_the_International_Military_Tribunal_in_Nurenberg_in_the_case_of_Danzig_Anatomical_Institute


Escritores soviéticos do pós guerra descreveram chegar a várias instalações em locais diferentes. Numa delas havia caldeirões cheios de líquidos e partes de cadáveres humanos, num processo de fabricação interrompido de sabão. Há trechos de filmes militares que estavam em poder da União Soviética mostrando isso. Tais filmes foram liberados e publicados em 2014.

Testemunhas e judeus que investigaram o assunto não encontraram evidências de fabricação em massa, mas concluíram que houve experimentos. Sabe-se que a SS usava tudo dos judeus como insumos, até mesmo cabelos e ossos. Seria a gordura algo improvável? Mas seria coerente imaginar cozinhar corpos em grandes panelas para extrair gordura? Não foi este o método utilizado no Instituto de Anatomia de Gdansk.


TESTES GENÉTICOS

Em 2006, um pedaço de um sabão RIF arquivado na Corte Internacional de Justiça em Haia foi entregue ao maior especialista em gorduras da Universidade de Tecnologia de Gdansk, na Polônia. Sua análise concluiu que havia alguma gordura humana no sabão.

Porem, desde 1990, o Yad Vashem, que é a Autoridade Nacional (Israelense) Sobre o Holocausto, definiu que nunca houve sabão feito com gordura humana de judeus.
 
Agência Reuters publica, em abril de 1990, para o mundo inteiro nota do Yad Vashem declarando que gordura humana não foi utilizada pelos nazistas.

Em 1990 já havia retirado as barras que tinha de exposição no museu em Jerusalém. Várias amostras, de várias partes do mundo, foram enviadas para exames de DNA na Universidade de Tel Aviv e os testes não encontraram gorduras humanas.

A Casa dos Combatentes dos Guetos (Lohamei Ha Guetaot), no norte de Israel, expõe o sabão RIF mostrando que ele não é feito com gordura humana. Este local foi o primeiro Museu do Holocausto do mundo.

As associações de sobreviventes do Holocausto do mundo inteiro, inclusive em Israel, e praticamente todas as associações funerais judaicas não aceitam a definição do Yad Vashem e se puseram publicamente contra. Esta confusão de documentos e falta deles, de testemunhas, e de testes químicos provando que tem gordura humana e outros provando que não tem, são um dos mais fortes argumentos dos revisionistas do Holocausto para afirmar que a totalidade da matança de 6 milhões não existiu.

“Memorial do Sabão” em Cuba é um exemplo do que existe em vários países e em Israel: "Honrando sua memória neste lugar estão enterrados vários pedaços de sabão feitos de gordura humana de judeus, parte dos seis milhões de vítimas da barbárie nazista no século vinte. Paz a seus restos."

O Memorial dos Mártires do Holocausto do Rio de Janeiro, nunca será violado, bem como as outras centenas que existem no mundo. Assim, não podemos ter certeza de que só há sabão RIF e não outro tipo, o dos experimentos em pequena escala assumidos em julgamento pelos criminosos nazistas que o fizeram. De qualquer modo, nosso Memorial do Holocausto é um memorial geral e o sabão RIF não possuir gordura humana seria ótimo e um desfecho feliz. É um objeto simbólico da tortura psicológica a que os judeus foram submetidos, quem sabe, imaginando terem que se lavar com sabão que não limpava direito e feito com os restos de seu povo.

O filme curto original de 1947 pode ser visto abaixo.
Existem dois erros sérios em minha narração e peço desculpas. Disse que o memorial ficava em Vila Rosali Novo, e não no Velho, que é o correto, e troquei o rabino Tzikinowsky pelo Fink, que é um rabino décadas posterior. Desculpem-me.


Comentários do professor e historiador Fábio Koifman

Mais importante exatamente do que o sabão ser ou não gordura humana (ele de fato não é, mas eles não sabiam disso), na época ele foi acreditado assim e desse modo foi tratado. Daí o procedimento de enterro. O Yad Vashem foi criado só em 1953. Importante também é compreender o contexto no qual o evento foi elaborado e qual significação (política, identitária, afirmativa etc) que a comunidade judaica deu ao fato e a publicidade. 

O "mistério" quanto a segunda câmera mostrada no vídeo de 1947, relaciona-se possivelmente ao filme "Enterro do sabão de gordura humana" que passou a partir de 28.3.1949 no Cine São Carlos como complemento de outro, pelo distribuidor de filmes israelitas Jacob Dvoskin, cujo representante era Isaac Copelman e depois seguiu para apresentação em São Paulo no Odeon.
 
© José Roitberg 2013-2024 - Jornalista e Pesquisador
Todos os direitos reservados na forma da lei
Publicado inicialmente na Revista Menorah edição de maio de 2013